[Maria do Rosário Pedreira]

Como há tempos aqui escrevi, citando o editor alemão Michael Krüger, os livros são organismos vivos e independentes do autor, na medida em que lhe sobrevivem por muitos e bons anos. Mas, após a morte de quem os pôs no mundo, precisam de alguém que tome conta deles e é, por isso, determinante o papel dos editores que vão ao «cemitério» onde se encontram e procuram de ora em quando ressuscitá-los. Vem isto a propósito de a editora Bizâncio ter recentemente tirado da morte um livro que fez furor na minha adolescência. Intitula-se Os Filhos da Droga e é assinado por dois jornalistas que fizeram uma longa entrevista à alemã Christiane F., uma jovem toxicodependente. Trata-se de um testemunho impressionante da adolescente, que começou pelas drogas leves como o haxixe e depois passou para a heroína, o que a conduziu a uma vida de tráfico e prostituição e a levou inclusivamente à cadeia. Nos anos setenta e oitenta, o livro vendeu como pãezinhos quentes, preocupados que andavam os pais com os casos de toxicodependência que, até então, eram não muito frequentes em Portugal mas começavam a aparecer sobretudo nas melhores famílias. Contudo, o assunto continua actual – e a lição de vida de Christiane F. pode ainda desmotivar alguns adolescentes de entrarem no mundo da droga pela violência e o negrume do seu relato.