[Maria do Rosário Pedreira]

É verdade que a escuridão pode ser um bicho de sete cabeças e que a noite é uma inimiga da calma e da ponderação, sobretudo se estivermos num ambiente desconhecido. O que frequentemente ganha proporções disparatadas num quarto escuro de uma casa isolada (um estalo de um móvel, um ladrar de um cão, um zumbido de um mosquito...) de manhã já não tem qualquer significado e até nos faz rir. Mas não ver (é isso o problema do escuro) assusta desde a mais tenra idade. E é sobre isto que fala o mais recente livro infantil de David Machado, Viagem ao Centro do Escuro, que conta com ilustrações (escuras, claro!) da talentosa Madalena Moniz. Esta viagem ao longo de uma noite é a de dois irmãos, ele dois anos mais velho do que ela (7 e 5 anos) e cheio de vontade de a proteger dos perigos, mas, curiosamente, um bocado mais medroso do que a irmãzinha (embora não o possa confessar, bem entendido, e tenha de se fazer de forte). E a história é tão boa que todos os adultos deveriam lê-la (e não só os que têm filhos com medo de apagar a luz à noite, entenda-se), porque a ideia é belíssima e, além disso, a aventura fala dos terrores nocturnos  e dos pesadelos com todas as letras, sem pedagogia barata, e de uma forma com que até eu, que já tenho idade para não temer o escuro, me identifiquei. Bravo: um grande livro para todas as idades. Sigam o monstro e dormirão que nem uns anjinhos!

 

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