[Carlos Evandro Martins Eulálio]

 

                       
            A notícia caiu como uma bomba. A moça está grávida. E de três meses.
Na cidade não se falava noutra coisa. A família sentia-se traída.
O rapaz, a princípio, não foi bem aceito. De tatuagem nos braços, piercing no nariz e ainda mais com aquelas ideias de comunista, deu trabalho pra fazer ponto na casa da namorada.
A custo, e com um jeitinho, as coisas foram-se acomodando...
Com uma conversa bonita, dizendo-se alguém de prestígio, inclusive amigo do governador, logo, logo posava de genro, almoçando aos domingos e fazendo a sesta em rede de tucum. Também pudera, com os agrados à dona da casa, tudo se encaminhava com mais facilidade.
Melhor ainda, depois que a incluiu no Bolsa-família e soube de suas preferências por doce de buriti do Ipiranga.
Nunca relaxava. Antes de dar carinho à filha, primeiro o caixote de doce pra mãe, que, vaidosa, orgulhava-se pras vizinhas de ter um futuro genro tão dedicado e, pasmem, moço de respeito, amigo de altas autoridades.
Mas agora que a desgraça tava feita, o espertinho queria tirar o corpo fora. Relutava em querer casar, pra reparar o “mal” que fizera à donzela, como diziam as tias solteironas.  
O janota vinha sempre com aquele discurso moderno pra mãe da moça, dizendo que tava iniciando na política e que dali por diante não lhe convinha pertencer a uma só pessoa, mas ao “povo da nação brasileira”.
As amigas, indignadas, não faltaram com o consolo e a solidariedade, sugerindo que ela tivesse uma conversa civilizada com o rapaz e, quem sabe, não o convenceria a mudar de ideia. Mas a velha, incrédula, respondia: “Não adianta, já implorei até de joelhos na frente dele, ninguém consegue fazer com que repare o mal que fez à menina.” E acrescentava: “querem saber da última? Anda por aí de peito estufado, com o rei na barriga, dizendo pra todo o mundo que agora é candidato a deputado e... pelo PT.”