ESFEROGRÁFICAS

     Estou usando sete canetas esferográficas. Uma vermelha (herança de quando estava em sala de aula e corrigia muita redação), uma azul, uma verde e quatro pretas. Tenho o firme propósito de acabar com suas tintas através da escrita. É uma maneira de me obrigar a escrever mais, de me afastar das telas. Já que não sou um escritor talentoso, nada melhor do que obrigar a mim mesmo a redigir mais. Sabe-se lá se de repente pinta uma ideia legal para um texto de excelência!? Não custa nada ter esperança. Atribuem a Picasso a frase que diz que o talento é 90% de transpiração e somente 10% de inspiração. Pois então vamos lá transpirar escrevendo.

     Tenho um diário desde 2014 e nele, esporadicamente, escrevia. Agora, com minhas sete esferográficas, escrevo diariamente, nem que seja só para colocar local e data e uma ou outra frase boba. Grandes escritores fazem isso e recomendam que todo pretendente a escriba o faça também. Faço-o porque não vou desprezar esse conselho de mestres e ainda porque meu talento é pequeno e precisa muito de empurrões. Então que eu mesmo o empurre.

     Além de no diário, escrevo também num bloco de papel que comprei numa livraria no qual redigi a maior parte de “Introdução à Literatura Piauiense”, livro que publiquei em março deste ano. Escrevo também em qualquer pedaço de papel que mantenho sobre minha mesa de trabalho. Nela, coloco faturas de contas pagas que têm trechos em branco, pequenos blocos e quaisquer outros papéis que encontro com partes em branco. É muito melhor neles malfeitas, textos que aprecio, textos que desprezei e risquei por cima, textos cheios de intromissões com umas frases por cima de outras, um verdadeiro pandemônio de orações, períodos, frases imorais truncadas, repetições inúteis, riscos e rabiscos, algo não muito diferente do que vai na cabeça de muita gente, inclusive na minha.

     Haverá algum prazer nesse pandemônio? Há, sim. Há o grande prazer, que não é a alegria de ver o texto pronto, nem de vê-lo publicado, nem lido e comentado por meus pouquíssimos leitores. É exatamente o prazer de sentir, não o correr da pena como dizia José de Alencar, mas o de sentir o macio e silencioso deslizar da esferográfica sobre o papel e depois contemplar o texto colorido. Mas principalmente o deslizar. Esse é inefável