A noite em que vi o Tremendão

[Chagas Botelho]

Já contei a vocês a primeira vez que vi o tremendão Erasmo Carlos, ao vivo e em cores? Foi assim. Eu fazia a cobertura do Festival de Inverno de Pedro II, por uma emissora de rádio da capital. Não me lembro do exato ano. Erasmo Carlos era a estrela maior da noite.

Eu passei o dia todo pensando como iria entrevistá-lo ou pelo menos lhe dar um aperto de mão. A noite chegou e as atrações começaram a se apresentar. E eu na cabine da rádio só pensava em Erasmo Carlos.

Quando o tremendão subiu ao palco, saí da cabine voando e me misturei à multidão. Cada música era uma lembrança boa. Assisti ao show quase todo pertinho do palco. Abandonei minha equipe dizendo o seguinte: “camaradas, vou assistir ao show do Erasmo, por favor, tomem de conta ai”. E me mandei.

Quando percebi que ele estava se despedindo do público, corri para trás do palco para vê-lo descer, abraçá-lo ou “selfiar”. O bom de uma rádio transmitir um evento, e você fazer parte dele, é que você tem acesso a todos os setores. Com um “crachazão” no peito, você é livre.

Quando vi o Erasmo Carlos descer, as pernas começaram a balançar. O coração bater forte. Os olhos arregalaram. Foi uma sensação louca de vê-lo bem de pertinho. Incrível mesmo.

Porém, não fiz nada do que planejei. O cara passou por mim como um relâmpago. E com mais seguranças do que a quantidade de gente que havia, na Praça da Bonelle. Tentei esboçar um “posso tirar uma selfie com você?”, mas infelizmente a voz faltou. Fiquei paralisado de emoção.

Não tenho registro com Erasmo Carlos daquela noite. Nenhum sequer. A minha estratégia não funcionou. O “crachazão” não adiantou. Os inúmeros pedidos de estou ao vivo na rádio, eu posso entrevistá-lo?” não surtiram efeito. Enfim, a única lembrança nítida até hoje, é que ele na da escada do palco, já quase ao rés do chão, ainda olhou de soslaio para mim. Esboçou um meio sorriso, e se foi. E isso foi tudo.

Lembrei-me do fato, porque hoje, cinco de junho de 2022, Erasmo Carlos completa 81 anos de idade. Tomara que a vida ainda me reserve a oportunidade de lhe apertar a mão. Nem que eu fique um tempão sentado à beira do caminho a esperar.

Foto - Leo Aversa