A ÉPOCA DAS PERDAS DE AMIGOS E OUTRAS PERDAS

CUNHA E SILVA FILHO

Chega um tempo em que nos damos conta de que realmente somos finitos, de que cá na terra não nascemos para a imortalidade. "Ad imortalitatem" é apenas uma frase simbólica que mal contenta os que a ela se acham ligados por laços de instituições culturais ou para fins de uma memória histórica e cultural que, com o tempo, também, se apaga pelas renovações das gerações que chegam como "ersatz" das velhas gerações esfumaçadas.

Só o futuro, de vez e quando, poderá relembrar algumas figuras, ou até revitalizar outras que foram meio esquecidas ou desconhecidas dos viventes do presente. Na velhice, sentimos com mais intensidade a travessia do tempo e a fragilidade dos seres humanos. Vêm os "achaques" (palavra que, não por qe razão, me associa ao escritor português Eça e Queirós (1845-1900) próprios dos que estão bem entrados nos anos de vida. Chega um tempo que bem corresponde àqueles adeus à disponibilidades” de que falava Tristão de Athayde (1893-1983).

Ao olharmos para o tempo decorrido, sentimos um presente meio que vazio dadas sobretudo às perdas de pessoas admiráveis que conhecemos, quer pessoalmente quer à distância; Porém, a perda inexorável nos dói demais e confesso - nos acabrunha e nos deixa mais órfãos. Há ainda um fator negativo com a chegada da velhice: os amigos que se afastam e se afastaram de nós como se nunca tivéssemos mantido um relacionamento pessoal tão grandioso e tão saudável. São raras as exceções das amizades duradouras, virtude que tanto prezo.

Ao vazio das ausências não podemos olvidar as pessoas queridas a quem admiramos fora da órbita familiar: as que compõe o grande grupo heterogêneo no âmbito cultural: os grande artistas m nacionais ou estrangeiros, os grandes escritores os grandes criadores nas múltiplos atividades, artísticas, culturais e científicas. São cantores, maestros, cientistas, religiosos, políticos, filósofos. Educadores, atores, atrizes, dramaturgos, escultores, arquitetos, liguistas, ideólogos. Professores ilustres da língua portuguesa. E de outras línguas. Autores estrangeiros nos vários gêneros, pintores, presidentes, pesadores, homens e mulheres de almas santas, da mais alta validade ética, enfim. homens e mulheres, eminentes em todas os campos do saber humano. Citar os nomes de tantos deles ou delas encheria milhares de páginas de um livro de dimensão mundial.

E tais ausências acontecem ao longo de nossas vidas. Afora, as perdas inestimáveis em se tratando de figuras históricas nos diversos campos da atividade humana que admiramos e lamentamos por desaparecerem como entes mortais. Contudo, esse é o preço de sermos humanos e mortais, seres fadados à finitude por razões lógicas, biológicas e por que não dizer matemáticas, demográficas, espaciais. Não algo tão lógico quanto a finitude da humanidade.

Por outro lado, se a imortalidade é necessária, há uma razão compensatória de nossa limitações físicas : a memória, a afetividade, o sentimento amoroso, a grandeza do legado material e espiritual dos que já partiram. Esse legado é uma espécie de consolo que, em certa sentido. corresponde ao que entendemos por imortalidade.

Isso vendo a questão do ponto de vista do homem ocidental. As religiões, quando praticadas para o bem comum e universal, também são componentes que têm a sua valia, o seu peso, inestimável. a sua relevância. Elas nos confortam, nos ajudam a suportar o sofrimento da perda e do adeus. Ai de nós se não fosse essa dimensão espiritual, essa “missing dimension,” tão valorizada pelo pastor Herbert W. Armstrong( 1892-1986), autor de várias obras sobre temas diversos relacionados à Igreja que fundou e dirigiu durante muito tempo. Ele escreveu um alentado volume 1, intitulado Autobiography of Herbert W, Armstrong (1957,com outras edições que foram até 1986). Um segundo volume da sua autobiografia me parece que não foi publicado. Sua Igreja, World Church of God, tinha uma larga repercussão mundial, mantinha cursos bíblicos gratuitos através da fundação por ele do Ambassador College, em Pasadena, Califórnia.

A sua igreja publicava uma revista, de título The plain truth, muito bem estruturada e impecavelmente impressa, que continha partes relacionadas a assuntos diversos durante a época de seu apogeu, anos 1990. Com a morte desse ilustre e carismático pastor, líder religioso, respeitado por importantes chefes de Estado de outros países como a China, o Japão, a África do Sul, Israel e Egito, Igreja que dirigia sofreu certo declínio, inclusive cancelando a assinatura gratuita de seus assinantes.

Sua grande meta era levar ao palavra de Deus a vários países proclamando convictamente que Deus ainda viria intervir e “salvar a humanidade durante a sua a geração”. Com o seu falecimento, não mais mandavam, pelo menos para países da América do Sul, gratuitamente exemplares de boas revistas, algumas destinada à juventude, assim como muitos livros de sua autoria, sobre temas bíblicos, de relacionamento humano, da paz mundial e de outras questões de alta relevância. que li por muito tempo. Foi uma pena para os leitores aficionados.

Essa dimensão transcendente, de que a humanidade  tanto carece, não deixa de ser um instrumento eficaz de propiciar uma forma. ainda que dolorida, das ausências que sofremos como um acontecimento inelutável da própria condição de sermos fisicamente limitados. Mas como dói, diria o grande poeta Carlos Drummond de Andrade.(1902-1987))

 

 

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