[Whashington Ramos]

Quando a máquina a vapor foi inventada durante a Revolução Industrial, o mundo tinha, aproximadamente, 700 milhões de habitantes. Esse número cresceu para 1 bilhão por volta de 1800. É claro que essa máquina tirou o emprego de muita gente. Trata-se de um processo natural, pois, quanto mais a tecnologia avança, menos a mão de obra humana é usada. Porém uma coisa é desempregar pessoas no mundo há duzentos anos; outra, muito diferente, é tirar o emprego de pessoas neste mundo de hoje, que tem quase 8 bilhões de seres humanos. Em 1800, não havia a prodigiosa máquina de propaganda que existe hoje. Ela nos mostra anúncios de comida ( Huumm... Que maravilha uma mulher belíssima mastigando uma fatia de pizza que se destaca com o queijo se desgrudando em fios ), de carros com altíssima tecnologia e conforto, que nos prometem a mais estonteante felicidade veloz ao lado de uma deusa; de celulares que nos permitem carregar o mundo em nosso bolso e acessá-lo quando bem quisermos. Há duzentos anos, a expectativa da vida humana era bem menor do que a de hoje e não havia a extrema valorização do ato de viver de que dispomos atualmente. O que havia era a pena de morte e o espetáculo macabro de se assistir ao rolar de cabeças decepadas ou ainda ver pessoas sendo queimadas vivas na fogueira. Para nosso bem-estar hoje, toda essa morbidez asquerosa desapareceu. A vida atualmente é muito melhor do que há dois séculos tanto em termos materiais como no comportamento, embora algumas pessoas insistam em dizer que o homem não mudou ao longo dos séculos e milênios. Mudou, sim, e muito. Em 1800, não havia a autoajuda que está nos dizendo o tempo todo: “Vá, vá, acredite em Você mesmo, Você tem potencial; quando Você quer uma coisa, o universo inteiro conspira a seu favor.” Essa crença infantil foi uma das causas da quebradeira que houve nos EUA em 2008 quando o governo e mercado facilitaram e permitiram que pessoas sem condição financeira obtivessem financiamento que não podiam pagar. Mas, como uma das características humanas é o contraste, surgem algumas perguntas perturbadoras. Como ficam as pessoas sem condição financeira de desfrutar das maravilhas que a publicidade nos oferece? Até quando a maioria delas vai se conformar? Por que muita gente quer gozar aqui e agora? ( Há uma canção que diz: “Se eu tenho que ser feliz, quero ser feliz agora.”). Por que estão tirando do planeta Terra aquilo que ele é capaz de nos dar naturalmente? As frutas são sazonais, mas elas estão sendo produzidas durante o ano inteiro. E vá faltar fruta no café da manhã desses hotéis de luxo, pra Você ver a gritaria que se levanta. Até quando a população mundial vai continuar crescendo desordenadamente? Por que, neste mundo tão rico, o número de miseráveis ( pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia ) é de aproximadamente de 700 milhões? Será que a coexistência de alta tecnologia e miséria fará desmoronar nosso edifício social? Só o tempo nos dará respostas a questões tão inquietantes.