Emprega-se o verbo haver como impessoal – isto é, sempre na 3ª pessoa do singular – quando tem o sentido de existir. Este é um dos casos de “oração sem sujeito”. Exatamente por isso o verbo haver fica neutro, impessoal, pois ele não tem um sujeito com quem concordar. Os substantivos que complementam o verbo haver são considerados seu objeto direto. Assim, para atender aos preceitos da língua culta, é preciso observar a forma no singular quando o verbo haver está conjugado nos tempos pretéritos ou futuros (no presente dificilmente se cometeria um engano: ninguém diria *hão outros casos). Exemplos:


Não há / haverá / haveria soluções a curto prazo.

Não mudaremos o país se não houver transformações profundas na Educação Básica.

Se houvesse mais justiça, haveria menos descontentes.

Para que haja menos neuroses é preciso reeducar as pessoas.

Vamos apurar todas as irregularidades que houver, disse o relator da CPI.


As mesmas frases, se construídas com existir, teriam o verbo flexionado de acordo com o substantivo, que aí é considerado o sujeito do verbo existir:


Não existem soluções a curto prazo. 

Se existisse mais justiça, existiriam menos descontentes.

Para que existam menos neuroses é preciso reeducar as pessoas.

Vamos apurar todas as irregularidades que existirem.


Em algumas situações também se pode substituir "haver" por outros verbos:


Se houver/ ocorrerem problemas, teremos de devolver o dinheiro.

Não é natural que haja/ aconteçam tantos distúrbios.

Às vezes, havia/ encontravam-se vasilhas de cerâmica aos pés dos mortos.


HAVER NAS LOCUÇÕES VERBAIS


Quando o verbo haver no sentido de existir faz parte de uma locução verbal, ele transfere sua impessoalidade ao verbo auxiliar dessa locução, que permanece, por isso, no singular:


Deve haver outras técnicas para melhorar o cultivo.

Pelas informações recebidas, está novamente havendo discussões clandestinas.

Está havendo coisas de arrepiar os cabelos. 

Não sei se chegou a haver sessões no Senado naquele período.


HÁ = TEM


Também o verbo ter, quando utilizado como haver, fica impessoal, sem sujeito, portanto sem o acento circunflexo no presente: "Tem pessoas assim em todo lugar". E singular no pretérito: "Na festa tinha mais mulheres que homens".


Este é um uso bastante coloquial, muito comum no Brasil; basta ver os versos de Chico Buarque “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu...” Assunto abordado com mais detalhes em Não Tropece na Língua 289.
 

VERBO FAZER IMPESSOAL


Da mesma forma que haver, fazer conserva-se na 3ª pessoa do singular quando indica tempo transcorrido ou fenômeno meteorológico. Estando o verbo fazer na função de verbo impessoal (sem sujeito), deve também assumir a forma impessoal o verbo auxiliar que porventura o acompanhar:


Faz dois dias que não chove. 

Dizem que faz 10 meses estão se preparando para o concurso.

Quando saí da cidade, fazia 40 graus à sombra.

Em julho fez uns dias de verão.

Vai fazer cinco anos que eles estão noivos.

Poderá fazer três anos sem que ele saia do sanatório.