UM BOM ROMANCE
Por Washington Ramos Em: 27/04/2025, às 22H29
[WASHINGTON RAMOS]
UM BOM ROMANCE
Li, na semana passada, o romance Caminho de Perdição, de Castro Aguiar, publicado em 2ª edição pela Academia Piauiense de Letras. A 1ª é dos anos 50 ou 60 do século XX, não sei exatamente qual ano.
Trata-se de um romance de época e que deve ser entendido em seu contexto. Algumas pessoas, equivocadamente, afirmam que ele está ultrapassado. Isso não é verdade. O mundo em que ele está inserido não é a Teresina de hoje, que tem um alto índice de suicídios, que é bombardeada diuturnamente por televisão, celulares e internet que formam e deformam milhares de habitantes desta cidade. O mundo em que ele está contextualizado é a Teresina de, aproximadamente, 65 anos atrás; é a Teresina que ansiava pela construção da Barragem de Boa Esperança para ter energia elétrica de qualidade; é a cidadezinha em que moças e rapazes volteavam na praça Pedro II, paquerando; é a Teresina da prostituição na Paissandu; é a Teresina em que moça era moça, e prostituta era prostituta; lar era lar, e cabaré era cabaré. Hoje, imagens eróticas pesadas invadem os lares e deformam consciências.
É ainda a Teresina em que se acreditava que o amor e uma vida cristã verdadeira podiam mudar o mundo para melhor. Hoje, poucos ainda acreditam nisso. Muitos preferem acreditar em quem morreu consumindo drogas, ou não crer em mais nada.
É um romance em que o narrador-personagem quase é destruído pela prostituição e por uma paixão por uma mulher, mas é resgatado por outra jovem que o leva a descobrir o que é o verdadeiro amor. Na redenção desse rapaz, tem papel importante também o pai dele, que não frequenta cabarés, sabe que o filho frequenta e lhe diz: “E nem por isso você é mais homem do que eu.” Ou seja, o pai combate a lorota da época segundo a qual um jovem só seria realmente um homem se transasse com uma prostituta. A coisa era tão intensa, que alguns pais levavam o filho para o prostíbulo.
A linguagem do autor, além de objetiva e direta, é rica em alegorias como esta: “Mas o machado da destruição deitou seu golpe profundo no caule da árvore daquela ilusão, e copa, e ramos, e folhas, e frutos tombaram pelo chão...”
A parte mais antológica desse romance está nas páginas 95 e 96, que é exatamente a prece que a personagem Tânia, ajoelhada ao lado do namorado, faz a Deus. Trata-se, com certeza, da mais bela página romântico-religiosa da Literatura Piauiense.
Por fim, numa Teresina que, como muitas outras cidades, caminha para a descrença, para o niilismo, nada melhor do que a leitura de Caminho de Perdição, romance que nos leva a crer que o amor e a fé cristã podem fazer muito por nós.