[Maria do Rosário Pedreira]

Não se é escritor porque se quer, mas porque se pode. E, porém, há imensos livros que se publicam de pessoas que decidem que a pele de escritor lhes serve às mil maravilhas – e até se vendem muito bem porque, infelizmente, nem toda a gente que aprende a juntar as letras sabe ler. Os verdadeiros leitores, como os verdadeiros escritores, serão sempre uma minoria – e a literatura séria está, com o tempo, condenada a ocupar uma pequena parcela das prateleiras das livrarias, onde hão-de proliferar muitos outros géneros de mais fácil assimilação. É uma pena que não se financie um escritor com provas dadas, como tantas vezes se apoia outro tipo de artista (o cinema é frequentemente subsidiado e os espectáculos e exposições quase sempre têm patrocínios). Os direitos de autor – em média 10% do preço de venda ao público do livro (sem contar com o IVA) – nunca poderão pagar as horas de escrita e reescrita de um romance. Noutros países, existem bolsas ou residências literárias que dão uma ajuda, fomentando a criatividade. Em Portugal, os autores ou têm outro emprego (o que nem é tão mau como pensam) ou vivem miseravelmente. Se escreverem um romance de duzentas páginas por ano (e já é muito) e venderem três mil exemplares (e tomáramos nós que todos os vendessem), receberão menos de quinhentos euros por mês, ou seja, o ordenado mínimo. Num país sem massa crítica como o nosso, quase poderíamos dizer que os escritores são uma espécie de empregadas domésticas intelectuais.