Novilho simental
Novilho simental

                Reginaldo Miranda[1]

O Engenheiro Antônio José de Sampaio(1857 – 1906) é reconhecido como pioneiro da indústria de lacticínios no Brasil, por fundar e inaugurar em 2 de maio de 1897, a sonhada Fábrica de Lacticínios de Campos, com modernos equipamentos trazidos da Europa, onde estudara durante toda a sua graduação.

Três anos antes, em 1894, depois de firmar contrato com o governo federal para explorar as Fazendas Nacionais, todas situadas no Piauí, parte para a Europa em busca dos modernos equipamentos, nos moldes dos que usavam as mais produtivas indústrias da Europa. E os adquire em Hamburgo, na Alemanha, realizando verdadeira odisseia para trazê-los ao Piauí, sobretudo, ao sertão da fazenda Campos, hoje cidade de Campinas, na região de Oeiras, que elegeu como sede de seus empreendimentos.

No entanto, o que ninguém até agora reconheceu foi seu pioneirismo na importação de gado da raça simental para o Brasil. Essas notas visam reparar esse equívoco. A Associação Brasileira de Criadores da Raça Simental – SIMBRASIL, reconhece como primeira importação os animais da raça que chegaram ao Brasil, em 1904, sob iniciativa da Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo. Inclusive, aquela associação foi fundada em 1963, para resgatar os remanescentes daquelas importações e seus cruzamentos selecionados na região Sudeste do Brasil.

Pois, Sampaio precedeu aos paulistas em dez anos fazendo a importação de quatro touros naquela pioneira viagem em que também trouxe os equipamentos de sua fábrica. Cabe, pois, a ele o reconhecimento do pioneirismo na importação do gado simental para o Brasil, trazendo-os da Suíça. Essa raça é originária do vale do rio Simmen, no Cantão de Berna, Suíça, com aptidão para carne e leite.  A Revista da Semana, suplemento ilustrado do Jornal do Brasil, edição n.º 310, de 22 de abril de 1906, fazendo-lhe homenagem fúnebre, assim registra: “Trouxe da Suíssa quatro lindos touros da raça Simmenthaler, melhorando, consideravelmente, o gado nacional”.

Também, consta nos Annaes da Câmara dos Deputados, sessão de 28 de novembro de 1906 o insuspeito registro: “Introduziu o arrendatário nas fazendas quatro touros da afamada raça Sinmenthaler, que deu os melhores resultados, assim como aperfeiçoou em parte a raça cavalar”. Na sessão de 30 do mesmo mês e ano: “Além da fundação da fábrica de lacticínios, estabelecimento modelo, já se iniciou, nas fazendas nacionais, o aperfeiçoamento do gado indígena, pelo cruzamento com tipos da raça sinmenthaler, estrangeira, importada especialmente para este fim e introduzida naquelas remotas paragens com sacrifícios que a câmara bem sabe avaliar”.

Portanto, estão aí registros insuspeitos da importação de quatro touros da ração simental pelo Engenheiro Antônio José de Sampaio, para as fazendas Nacionais do Piauí.

E o que foi feito desse gado? Que resultado trouxe para a nossa pecuária? Sabidamente foi feito o seu cruzamento com vacas da raça curraleira ou pé-duro, produzindo bezerros de excelente qualidade, cujos machos eram utilizados em outras fazendas de seu empreendimento, assim como vendidos para fazendas de terceiros interessados. E as fêmeas aproveitadas no seu próprio criatório, produzindo um gado de maior porte, predominância da cara branca e rendimento diferenciado. Segundo o deputado Joaquim Cruz, em discurso no Parlamento Brasileiro, em 30 de novembro de 1906, quando do óbito de Sampaio, em homenagem fúnebre, foi de grande proveito o cruzamento desses quatro novilhos com as vacas crioulas, produzindo animais mestiços de qualidade superior. Segundo ele, em 1906, um garrote oriundo desse cruzamento era vendido por 200$, sendo então um preço considerável (Annaes da Câmara dos Deputados – 1900 a 1910).

Para finalizar, façamos justiça ao Engenheiro Antônio José de Sampaio, reconhecendo-o como pioneiro na importação de gado simental para o Brasil. E que não se esqueça o Piauí, que foi palco desse pioneiro empreendimento, produzindo um gado mestiço diferenciado que muito melhorou a sua pecuária.

 


[1] REGINALDO MIRANDA, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do Piauí. E-mail: [email protected]