WASHINGTON RAMOS

QUEM É O AMANTE DAS AMAZONAS?

     Essa pergunta me persegue desde a primeira vez em que vi o livro de Rogel Samuel ( O amante das amazonas – Editora Itatiaia – Belo Horizonte – 2005.). Li-o há poucos dias e não consegui descobrir quem é esse amante. No desfecho do romance, o narrador-personagem ( Ribamar ) se diz o amante das amazonas. Como leitor, não o vejo assim. Não é um conquistador de mulheres, não tem amantes e se casa com uma mulher que não é uma amazona. Ele  não é o único assim. Os demais personagens do romance também não se efetivam como amante das amazonas, pelo menos no sentido tradicional que se vê na vida concreta e em obras de ficção como O amante de Lady Chaterlly, de D.H.Lawrence, e O amante da condessa, de Adelaide Carraro, dentre muitas outras. Há ainda outra pergunta: quem são as amazonas? Para esta, também não encontrei resposta. A ideia que as pessoas têm das amazonas é que elas são mulheres guerreiras, valentes. No romance, nenhuma figura feminina é assim, nem mesmo a índia que furta um cofre.

     Restou-me, como leitor, imaginar metáforas em que o amante das amazonas seria o conjunto de gananciosos do ciclo da borracha no estado do Amazonas e que de lá foram embora quando a derrocada econômica começou. As amazonas, claro, seriam as riquezas proporcionadas pelo látex.  Assim como os amantes de mulheres, na maioria ricas, as abandonam ou são abandonados, os gananciosos abandonaram a Amazônia. Ninguém cogita a possibilidade de se criar outro meio de continuar a produzir riqueza em uma região tão pujante.

     No mais, trata-se de um romance com aspectos históricos sobre o ápice e a queda do ciclo da borracha na Amazônia brasileira, principalmente em Manaus. Tem dois narradores: Ribamar, em primeira pessoa, e um de terceira. Alguns capítulos parecem enxertados propositadamente para quebrar a sequência narrativa, pois não têm continuação no restante do livro.

     Na página 116, gostei desta paráfrase de uma frase famosa de Karl Marx: “Tudo que era sólido se desfazia no ar... “ Resume bem a falência em Manaus. Na página 128, está uma paráfrase de versos de Camões sobre o Velho do Restelo, em “Os Lusíadas”: “E foi o regatão Saraiva, com uma sabedoria só de experiência feita, que aconselhou a menina...”

     Alguns equívocos no romance são o emprego excessivo de adjetivos e a confusão entre jantar e almoço nas páginas 155 e 156.

     De todos os capítulos, o que mais apreciei foi o nono, que é sobre o Frei Lothar. Senti falta de uma maior atuação desse personagem admirável no restante do livro.

     Mas, por fim, o livro tem valor. Pelo menos me incentivou a ler mais sobre o esplendor e a decadência de Manaus durante o ciclo da borracha. Eis minhas impressões sobre o livro de Rogel Samuel. Não contêm crítica injusta nem elogios gratuitos.