[Dílson Lages]

 

Fiquei curioso para saber como reagiram adolescentes à leitura de O morro da casa-grande, adotado como leitura obrigatória em escolas de Teresina. Ontem conversei demoradamente com amigos professores a esse propósito. A resposta deles, que é a resposta dos alunos, provocou em mim a certeza de que carrego grande responsabilidade sobre os olhos, o cérebro e principalmente o coração.

O que, para alguns, poderia significar vaidade, em mim é o desejo por mais disciplina. Disciplina para ler; disciplina para escrever. Como passo o dia envolto em texto, mas não precisamente absorvido por literatura – material didático a elaborar, textos a corrigir e avaliar -, em jornadas de até 12 de trabalho, tenho que me desdobrar para organizar o tempo. Desdobrar-me, a fim de que me sobre ao menos meia hora ao dia para a vivência literária. Meia hora, nem que antes de dormir.

Posso até decepcionar os que me leram, os que esperam por mais. Posso escrever aquém das expectativas, afinal sou apenas um leitor de sensações. Não posso, porém, deixar de escrever, deixar que a crítica de energia negativa perfure minha visão e roube a minha capacidade de sentir.

Por isso, persisto nem que seja por meia hora. Por meia hora, lendo uma, duas, três páginas de ficção; escrevendo um parágrafo, uma lauda ou o que minhas energias autorizarem. Outro dia, escrevi apenas um período de uma estória infantil, e valeu por um texto inteiro.

Persisto. Afinal, sinto-me obrigado a persistir, mas principalmente, meus olhos, meu cérebro e  meu coração pulsam literatura.