capa
capa

Aquele homem magro, baixo (teria 1,50m de altura), cotidianamente elegante, empertigado, ereto, a cabeça levantada disfarçava a pequena estatura, bigodinho à Carlitos, com quem se parecia, altivo, mas sem ridículo, altaneiro, nobre, neto do Duque de Cellis, uma das mais nobres famílias de Espanha, que vinha da antiga Roma, inteligente, culto, falando fluentemente várias línguas, sempre com a mulher, D. Ifigênia Vellarde, católica, filha bastarda do nobre D. Angel Vellarde, mulher amante da Amazônia e do seu luxo selvagem, doceira, bordadeira, nos seus elegantes e simples vestidos de seda rosa cálido, com os dois grandes diamantes como grossas lágrimas caindo dos lóbulos das orelhas quais espantosos sóis - cuja ascendência foi usada pelo marido nas alianças e pactos durante a Guerra do Acre, quando Pierre fez o hábil jogo de duplicidade com brasileiros e bolivianos, ficando em paz com os dois e dos dois tirando igual proveito, principalmente valendo-se do fato de estar ele protegido da guerra por uma inatravessável massa de 400 km de floresta, de pântanos e de flores - sim, era impossível conceber, fazia eu, como aquele fidalgo engastado na floresta, cercado de todo o luxo parisiense e de seus muitos livros - os clássicos, Schopenhauer, Rousseau - como Conquistador da Amazônia, do vasto império de látex (- “Assim é o látex”, dizia ele - “elástico como o caráter. E é por isso que sai daquelas árvores como coisa fundamental e gomosa, como os líquidos viscosos sob a casca do corpo, o pus, o plasma aquoso branco, a goma, a seiva selvagem do muco que faz sangrar a floresta pegajosamente - é assim a seringa: o sangue da Amazônia que colhemos como um estranho mal e que um dia teremos de pagar muito caro”) - sim, aquele homem não se desorganizava moralmente nos seus abismos e nos seus extremos em transformar-se e sitiar-se o Seringal num campo de concentração durante a dominação Numa.