Nem bem degluti pesquisa de opinião providenciada pelas hostes palacianas para medir o grau de satisfação da população piauiense em relação ao governo e ao presidente, cujo resultado, anunciado entre fogos de artifício e questionamentos, apontou mais de oitenta por cento para o governador e quase cem dados ao chefe da república, uma outra, nova, sabe-se lá encomendada por quem, citada em artigo de jornal local, informava-nos que noventa e nove pontos percentuais dos indivíduos ouvidos, de algum modo e em determinado grau, admitiam ter preconceito homofóbico.

                Dizia o colunista que, no início da pesquisa, menos de vinte por cento dos consultados aceitavam sua homofobia. Ele não afirmou, mas constou do texto, que tal índice foi aumentando à medida que os pesquisadores estendiam o tempo de entrevista. Será que a irritação e a exaustão dos entrevistados não teriam sido as responsáveis pela marca estupenda, fabulosa, espetacular do percentual?

                Um por cento em qualquer mensuração estatística é um valor desprezível; geralmente, atribuído para mais ou para menos, é considerado margem de erro; cem por cento, por sua vez, é quase uma quimera. Daí a dificuldade em aceitar o sensacional índice obtido como expressão de inquestionável verdade.

                Números estapafúrdios assim me levam a pensar como o termo preconceito vem sendo mal utilizado, senão, descaracterizado. Notadamente, hoje, tudo que desagrada ou apresenta uma ideia diferente daquela que alguns defensores ferrenhos e, não raro, hipócritas, acatam, é logo tomado por preconceito, discriminação, segregação. Para esses, ninguém tem direito de discordar de uma situação, ainda que excepcional ou oriunda da manifestação de pensamento ou ação de uma minoria, com a qual eles concordem ou defendam.

                Partindo desses pressupostos, diria que não aplica a melhor semântica etimológica do vocábulo preconceito quem tacha de preconceituoso alguém que admite não aceitar a homossexualidade como condição existencial ou biológica tão ideal quanto a heterossexualidade. Considere-se algo natural, quiçá normal - já que, segundo instituições sanitárias competentes, ela não é uma doença nem uma aberração -, a opção pela homossexualidade; todavia, não há como contestar que a natureza ou a criação, ao colocar homens e mulheres, machos e fêmeas como gêneros distintos, fê-lo para que, interagindo sexualmente, gêneros opostos, pudesse ser garantida a perpetuação das espécies.

                É indiscutível que um contingente razoável de pessoas, mesmo aos amigos ou parentes homossexuais, critica velada ou explicitamente por conta de sua opção; porém, mesmo nesses casos, não se pode afirmar, categoricamente, que estejam agindo preconceituosamente. A homofobia, como qualquer outro tipo de aversão, repugnância ou antipatia, não necessariamente, transforma os que as desenvolvem ou apresentam, automaticamente, em seres preconceituosos.

A respeito da generalização e banalização da semântica de alguns termos, como ocorre com preconceito, assim se expressou o filósofo paulista Paulo Ghiraldelli Jr: “Toda vez que um grupo dito minoritário reclama de um termo e tenta criar instrumentos jurídicos para retirá-lo da cena pública, o termo não só é fortalecido como até pessoas que eram simpatizantes das causas dos grupos minoritários se voltam contra eles. Ninguém gosta de ser censurado”. Nem rotulado, indevidamente.

                                                                               Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal

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