[Maria do Rosário Pedreira]

Há sempre um  monte de livros sobre a minha mesa para eu ler – e há outro monte virtual no meu computador. Há dezenas de pessoas que me escrevem pedindo que leia os seus livros ou que conseguem encontrar-me aqui e ali e me prendem uns minutinhos para me entregar em mão um romance que escreveram e querem publicar. É, por isso, de algum modo, excepcional eu publicar um livro de um autor que queria apenas fotocopiar uns quantos exemplares do seu texto para oferecer a amigos e família e pediu a um cunhado com talento que lhe fizesse apenas uma capa para tudo ficar mais bonitinho. A verdade é que eu vi essa capa por acaso, e li o título, e devo ter perguntado o que era aquilo e, já não sei bem como, dei por mim a ler o texto e a querer publicá-lo. Pois bem: O Intrínseco de Manolo é uma delícia alentejana, um romance sobre um homem intrinsecamente bom, vítima de uma calúnia que envolve o comportamento da mulher, que se põe todas as sextas a caminho da aldeia vizinha, por acaso espanhola. Mas quem se refugia no falatório há-de pagá-las – e bem, porque os bons homens preferem vingar-se com luva branca. Ternurento, cómico e ocasionalmente escatológico (preparem-se para a Idalina que – perdoem – é literalmente capaz de cozinhar um peido), esta é uma  estreia vigorosa que nos enche de boa-disposição e nos ensina o poder que a excepção pode ter sobre a regra.