D. Eunice Miranda
D. Eunice Miranda

Reginaldo Miranda[1]

Nasceu na cidade de Aparecida, em 13 de julho de 1943, mesmo ano em que esta teve a denominação mudada para Bertolínia[2], por decreto de 30 de dezembro daquele ano, filha de Osmar Mendes da Rocha e Benta Paula de Jesus. Desde a mais tenra idade foi adotada por seus parentes Dermeval Mendes da Rocha e Maria Martins de Miranda Rocha, que a criaram com cuidado, desvelo e carinho.

Foi no Quadro da Igreja, como era popularmente chamada a Praça da Matriz, e em seu entorno, que viveu os felizes e despreocupados anos da infância, assim como a juventude e maturidade, nunca tendo se afastado por muito tempo da terra que lhe serviu de berço.

Estudou na cidade natal, cursando o ensino primário no Grupo Escolar Bertolino Rocha, cujos estudos concluiu em 1954, com onze anos de idade.

Ao completar dezoito anos, em 1961, ingressou no serviço público municipal, na gestão do prefeito Osório de Sousa Rocha. Em 1º de fevereiro de 1963, foi nomeada para exercer a função de Secretária do Gabinete do Prefeito, em cujo exercício permaneceu por duas gestões. Depois de lograr êxito em concurso público de provas e títulos foi nomeada para o cargo de Escriturária, regime estatutário, por decreto de 25 de setembro de 1971. No entanto, desde 2 de fevereiro daquele ano, exercia as funções de Procurador-Tesoureiro da mesma Prefeitura, em cujo exercício também permaneceu por duas gestões, até 31 de janeiro de 1977. Desde o início exerceu seu trabalho com regularidade, zelo e competência, fazendo diversos cursos e treinamentos para melhor aprimorar-se no desempenho funcional. Mais tarde, em 1º de março de 1983, foi nomeada para exercer as funções de Chefe da Unidade de Cadastramento Municipal e, em seguida, Chefe da Seção de Pessoal, alcançando a aposentadoria em 31 de março de 1992. Foram funções modestas mas exercidas com muita responsabilidade, lisura e competência, constituindo-se em figura central no dia-a-dia da administração pública, na lida diária da Prefeitura, procurando sempre solução para os problemas que apareciam e, assim, aliviando a sobrecarga administrativa de muitos gestores. Não disputou cargos eletivos, embora tivesse toda a condição de fazê-lo, tendo, porém, integrado o diretório e comissão executiva de diversas agremiações partidárias, a convite de suas lideranças.

Com três filhos para educar, mais tarde nasceria a caçula, no segundo semestre do ano de 1973, sobressaiu-se com a ideia e na luta para criar o curso ginasial em Bertolínia, o primeiro da cidade, que foi efetivamente instalado em 1º de junho de 1974. Foi uma bela campanha de arrecadação de fundos que envolveu toda a comunidade, inclusive o juiz, o médico recém-chegado, diversas senhoras da sociedade e a juventude em geral, em diligências pelas cidades vizinhas. Nessa quadra de nossa história, D. Eunice Miranda foi inexcedível, depois matriculando-se como aluna da primeira turma do mencionado curso ginasial, na Unidade Escolar Nossa Senhora Aparecida.

Porém, a sua grande vocação era a atividade religiosa, o auxílio nas celebrações litúrgicas, na catequese, na eucaristia, no ensinamento cristão a que ela, na qualidade de leiga vocacionada, deu o melhor de si. A Igreja era sua vida, tendo vivenciado o cristianismo e guardado a fé com rara devoção. Na década que se iniciou em 1970, quando a nossa cidade ainda não tinha sido contemplada com a graça de um sacerdote residente, era ela uma devotada cuidadora e zeladora da igreja, trazendo a chave à algibeira; mais tarde, com a chegada das três religiosas josefinas, Ir. Gerarda, Ir. Elvira e Ir. Glória, fora dedicada na recepção, no apoio e no auxílio às mesmas em sua atividade religiosa; em seguida, continuou seu trabalho com a criação da paróquia e chegada dos sacerdotes titulares; foi membro do Conselho Paroquial, do Grupo de Orações do Sagrado Coração de Jesus, da Equipe de Liturgia, Ministra Extraordinária da Sagrada Comunhão, catequista e uma das fundadoras e presidente do Grupo de Mães Cristãs. Também participou ativamente da fundação da Pastoral da Juventude. Foi, assim, uma cristã que professou a fé não apenas como uma expressão verbal, mas doou-se por inteiro à causa da Igreja.

Nas atividades católicas e sociais da cidade, principalmente na recepção a religiosos, tais quais: bispos, padres e freiras, usava da palavra e sobressaia pelo discurso fácil, com boa dicção, eloquência e impostação de voz. Por nomeação de magistrados chegou a atuar como defensora dativa em defesa oral na tribuna do júri.

Foi casada com o pecuarista e serventuário da justiça, Abdon Rodrigues da Silva, que lhe sobrevive. Deixa quatro filhos, aos quais muito se empenhou para educá-los: Reginaldo, advogado; Dermeval, cirurgião-dentista; Corália Maria, professora; e Maria Deyse, contadora; além de cinco netos, de filhos afetivos que criou e os educou e de muitos parentes e amigos.

Faleceu na madrugada do último dia 24 de setembro de 2020, na cidade de Teresina, onde se encontrava em busca de recursos médicos, sendo o corpo transladado para sua terra natal e sepultado, ao lado dos genitores, no cemitério público da cidade. Por todos esses atributos de personalidade, deixa um vazio e uma imensa saudade em todos os seus familiares e amigos. Requiescat in pace.

 


[1] REGINALDO MIRANDA, advogado e escritor, membro titular da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI.

[2] Homenagem ao tenente-coronel Bertolino Alves e Rocha, benfeitor do lugar, bisavô de Osmar Mendes da Rocha e de Dermeval Mendes da Rocha.