Cineas Santos: Cheiros de Teresina

[Cineas Santos]

Uma cidade, irmãos e irmãzinhas, aqui ou alhures, é muito mais que casas, carros, ruas, becos, atribulações...

Uma cidade é, acima de tudo, uma colcha de retalhos, costurada por muitas mãos. Mãos delicadas, ásperas, generosas, mesquinhas...Cada uma delas vai imprimindo sua marca na costura da urbe.

Uma cidade são sonhos que se realizam, expectativas que não se cumprem, desejos latentes no ar...

Você, que vem a Teresina em busca de trabalho, saúde, amor, saiba que os que aqui vivemos (ou simplesmente vegetamos) também lutamos por isso.

E lutar é, entre outras coisas, produzir odores.

A cidade tem, portanto, muitos cheiros: de suor, de pão, de vida, de morte...

Assim, para integrar-se a esta cidade de coração quente, procure familiarizar-se com os odores que dela exalam:

No Poti Velho, onde os rios se abraçam, impera o inconfundível cheiro de peixe fresco.

Do cais do Parnaíba, primeiro portal da cidade, vem o bodum repulsivo de fezes e urina...

O Mercado Central cheira a tudo: suor, frituras, café, fumo, cachaça...

A Tabuleta exala cheiro da pneus, de graxa, de poeira, de estradas, de lonjuras...

O cheiro de lama que se sente na Marechal Castelo Branco vem do Poti, um rio migrante, minguante, morrente...

Na zona leste, o olor insinuante dos novos-ricos em suas gaiolas de ouro.

O aroma de jasmim que se insinua nas tardes de maio provém das meninas em flor, peles tostadas de sol, almas repletas de sonhos...

E tem o cheiro de agosto, o doce cheiro da florada dos ipês, ouro banhando as calçadas.

Setembro trescala a cajus, mangas-rosas, cajuína...

Em dezembro, banhada pelas “chuvas amorosas”, a cidade recende a terra grávida de vidas...

E de toda parte, mesmo dos bairros mais pobres, vem o cheiro quente da ternura e do bem-querer dessa gente simples, trabalhadora e generosa, que faz de Teresina a nossa Cidade Amada.

(Uma singela homenagem a Teresina nos seus 173 anos de existência)