[Domingos Pellegrini]

João Milanez perguntou ao repórter porque não ia conhecer o nascente Iapar, então numa casa vizinha de quadra da Folha. Fui, para ser recebido pelo presidente Raul Juliato com camisa florida e braços abertos: - Finalmente alguém da imprensa nos visita! 

Naquele dia de 1972 comecei a amar o hoje chamado agronegócio. Agora olho para trás e quanta evolução! Lembro de mister Hardy, criador da variedade de soja com seu nome, desabafando no Iapar: - Só vejo plantação com excesso de herbicidas!
 
Agora*, o Brasil é o país que mais produz alimentos para cada dólar gasto com defensivos, a cada ano usando menos. Nosso Agro é geralmente – e intencionalmente pelos países concorrentes - confundido com queimadas e trabalho escravo, coisas a merecer cadeia e dar engulho, enquanto nosso Agro dá orgulho. 
 
Em meio século, o Brasil se tornou potência agrícola, com o preço dos alimentos caindo pela metade. E o Agro se tornou o maior empregador do país, com 32 milhões de trabalhadores ou mais de 33% dos empregos – com crescimento sempre sustentado, chegando aos R$ 600 bilhões de valor bruto ou 24% do PIB, e liderança internacional de produção e exportação de dezena de produtos. É o setor mais competitivo da nossa economia, único a crescer durante a crise. 
 
Em 2017, o Agro exportou 96,2 bilhões de dólares ou R$ 307 bilhões, 44% das vendas externas do Brasil, garantindo superávit na balança comercial, ou seja, nos livrando de crise cambial e suas consequências. 
 
Mas ambientalmente também o Agro dá exemplos. Dedica 21% do território nacional à preservação de vegetação nativa, sem qualquer contrapartida governamental, nisto também líder no mundo. Nossa área total protegida é de 28,9% do território, enquanto a Austrália, segunda maior protetora, tem apenas 19,2%. Os países que mais criticam nosso Agro são os que tem menos áreas protegidas, além destas serem na maioria desertos, montanhas ou regiões geladas. 
 
Nossos agricultores exploram apenas 52% de suas áreas com lavouras, pastagens ou reflorestamento, preservando o restante não só por dever legal mas também por gosto ou amor, como queira. São na grande maioria gente que ama a terra, as matas e seus bichos. 
 
Mais ainda, o Agro é o setor que menos consome energia (4%) mas contribui com 30% da geração energética (lenha, carvão, etanol, biodiesel e biogás). 
 
Lá nos anos 1970, estudo da Itaipu revelava que a erosão levava 500 milhões de toneladas/ano de terra para os riachos e rios e daí para a represa da usina, que assim poderia até se tornar inviável. Mas Itaipu funciona porque hoje somos campeões também em plantio direto na palha, super reduzindo não só a erosão como o uso de combustível, recuperando fertilidade e aumentando a produtividade como nenhum outro setor da economia. 
 
Nossa produção integrada – consorciando lavouras, animais e florestas – também é exemplo para o mundo. E, além de tudo isso, o Agro propiciou e fortaleceu o cooperativismo, crescente alternativa civilizada entre socialismo bruto e capitalismo selvagem. 
 
De casa vejo todo ano o morro em frente se vestir de verde-soja, verde-trigo, verde-milho, amarelando até a colheita, debaixo do céu azul de nuvens brancas. Assim vemos a bandeira nacional sempre vestindo nossa terra vermelha, e sinto orgulho do Agro, que prefiro chamar assim porque é muito mais que apenas negócio. Obrigado, Milanez!
 
*Dados do livro Tons de Verde, Evaristo de Miranda (Embrapa), Metalivros, 2018.