Maria José Ferreira Sousa
Maria José Ferreira Sousa

OS 100 ANOS DO NASCIMENTO

DE MARIA JOSÉ FERREIRA SOUSA

 

 

Por Diego Mendes Sousa

 

 

NIRVANA

Humberto de Campos

 

Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;

 

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;

 

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;

 

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro – é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!

 

         O vivente da Parnaíba, Humberto de Campos (1886-1934), é o poeta predileto de uma ávida leitora e grandíssima mulher chamada Maria José Ferreira Sousa. Nascidos no mesmo dia, ou seja, 25 de outubro, Maria José festeja também o seu aniversário de cem anos, neste ano de 2025.

         Maria José nasceu em São Luís do Maranhão no ano de 1925, em uma família geneticamente favorecida pela inteligência incomum. Mister ressaltar, que Ferreira Gullar (1930-2016) pertence a sua mesma árvore genealógica.

         José Faria Ferreira, genitor de Maria José, conduzia a educação das suas seis filhas, lendo romances e poemas em voz alta, sob a luz das lamparinas, todas as noites, inclusive, em uma cidade de sol grosso e áspero, antes da guerra, São Luís do Maranhão.

         A piauiense, de Teresina, Maria dos Santos, descente dos indígenas Poty, morreu muito jovem, deixando Maria José e as suas irmãs, Elda, Amélia, Walderez, Lourdes e Miriam, órfãs. Maria José era a primogênita e, aos dezoito anos de idade, tornou-se arrimo da sua família.

         Com as responsabilidades de cuidar e prover as irmãs mais novas, Maria José trabalhou no comércio ludovicense e encontrou o caminho dos estudos, sendo aprovada em primeiro lugar, em concurso público, para o alto cargo de Auditora do Tesouro Nacional, com apenas vinte e cinco anos de idade, em 1950, em um tempo em que a mulher brasileira era relegada ao lar, sendo pioneira em diversos aspectos sociais.

         Maria José Ferreira Sousa virou proa de independência e de representatividade. Como era muito esforçada e estudiosa, ingressou no magistério, sendo brilhante professora das disciplinas de língua portuguesa, de matemática, de contabilidade e de Direito.

        Na Parnaíba, para onde migrou já casada com Aldi do Espírito Santo Anunciação Sousa (1933-2014), ministrou aulas na União Caixeiral, sendo paraninfa de diversas turmas.

       Esteve à frente da Unidade Escolar Alcenor Candeira – Cobrão, com o professor João Ernesto e o poeta Alcenor Candeira Filho, ainda na sua fundação. A convite de Lauro Andrade Correia, submeteu-se a realização de todas as provas admissionais, obtendo as notas máximas, contribuindo para que a Universidade Federal do Piauí (UFPI) fosse instalada na Parnaíba, com os seus três primeiros cursos superiores.

        Como Auditora da Receita Federal do Brasil, Maria José Ferreira Sousa foi auditora chefe da repartição por vinte e cinco anos, tendo inclusive implantado a atual sede da Receita Federal, na Praça da Graça, no centro da cidade da Parnaíba.

       Em razão da sua brilhante atuação na Receita Federal do Brasil, recebeu de Wilson Carvalho Gonçalves, auditor, historiador e imortal da Academia Piauiense de Letras, a incumbência para ser professora da Escola de Administração Fazendária (Esaf), em Brasília e em Teresina.

        No final dos anos oitenta, do século passado, tornou-se líder religiosa e contadora da Diocese de Parnaíba, com atuação na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro Nova Parnaíba, onde passou a residir após a sua aposentadoria.

       Maria José Ferreira Sousa é a minha referência de caráter, de ética, de integridade, de disciplina, de dignidade, de sensibilidade, de inteligência, de sabedoria, de honestidade, de caridade e de todos os valores e atributos que um ser humano pode ter e conceber no tortuoso percurso existencial, essa extrema experiência do vivido, onde o amor reina e prospera.

       A você, minha amantíssima avó-mãe, de quem herdei tudo o que sou, os louros do tempo, pois quem ama as rosas, suporta os espinhos, diz o antigo provérbio, que esmaga o meu coração, nesta manhã que avista o mar e sente o barulho das ondas.

       O poema Dor, de Humberto de Campos, é o seu poema leme de vida, recita-o de cor diariamente, como se fosse o seu oxigênio.

 

 

DOR

Humberto de Campos

 

Há de ser uma estrada de amarguras

a tua vida. E andá-la-ás sozinho,

vendo sempre fugir o que procuras

disse-me um dia um pálido adivinho.

 

No entanto, sempre hás de cantar venturas

que jamais encontraste... O teu caminho,

dirás que é cheio de alegrias puras,

de horas boas, de beijos, de carinho...

 

E assim tem sido... Escondo os meus lamentos:

É meu destino suportar sorrindo

as desventuras e os padecimentos.

 

E no mundo hei de andar, neste desgosto,

a mentir ao meu íntimo, cobrindo

os sinais destas lágrimas no rosto!