.   SESSÃO NOTALGIA:

WTC: 10 anos depois 

                                                                          CUNHA E SILVA FILHO                             

     Eu estava vindo das minhas  aulas. Entrei em casa. A tevê estava ligada. De repente,  surge na tela uma imagem que me  deixou sem palavras. Fiquei calado, sem ação. O que via era algo que, à primeira vista,  parecia ser um  filme de aventuras, com ações  violentas e  chocantes tão comuns em  filmes  americanos.

      Mas, qual nada.  Logo  ouço a voz do apresentador narrando  o acontecimento  pavoroso, inimaginável. Era um avião  dirigindo-se a um  arranha-céu e, o que  é pior,  indo chocar-se contra uma parte elevada do edifício. De  imediato, bolas de fogo tomam conta daquela parte atingida   e se espraiam abalando toda uma estrutura  de ferro e de cimento.

     Logo depois,  vem  outro  avião atingindo em cheio o outro  arranha-céu. Tudo, ali, no alto,  parecia  se esboroar em meio ao fogo,  à fumaça preta.  Quase  ao mesmo  tempo, em Washington, um outro avião atinge o Pentágono. Com isso,  se completam   três ataques aéreos terroristas  contra  os EUA.

     O quadro final da imagem tétrica, além de todas as suas sequelas hediondas – vidas  estraçalhadas, corpos queimados, corpos vivos  e desesperados,  saltando dos andares altos  das chamadas  Torres Gêmeas para  o vazio  do espaço em direção  à morte, bombeiros, em seguida, enfrentando  a morte para   salvar vidas entre tantos  outros  detalhes, pessoas,  ainda vivas,  sãs, telefonando, por  celulares,  pela últimas vez,  para seus entes queridos. 

      Era essa a imagem que     se tinha   praticamente ao vivo de Nova Iorque. Enfim, o clímax  do crime: os dois  edifícios desabam deixando,  no entorno,   uma  fumaça  grossa  de poeira invadindo   lentamente  as  ruas  próximas  da capital do mundo.

      No mesmo  dia  do ataque fatal    contra  as Torres Gêmeas, não sei se pelo  rádio ou mesmo  em notícias  posteriores da  tevê,  comentava-se  que  um grupo de alunos  de uma conhecida   universidade prviada  carioca de viés burgês, a PUC-Rio,  logo ao saberem  das notícias  do ataque terrorista, davam vivas  aos   responsáveis  por  esse crime inominável. Nenhuma vida de  inocentes merece o aplauso  de opositores de  regimes em qualquer  parte do mundo.

     Hoje,  os americanos  homenageiam  os mortos do WTC (World  Trade Center). Tributo  justo de uma nação. Por isso,  mesmo, com  toda a  pompa  que a data merece, os americanos  recordam  a memória  dos que  estavam  nos  dois  prédios e  perderam a vida  e dos que,  lutando para salvar  vidas,  perderam também as  suas próprias  vidas: os bombeiros,  principalmente.

        As feridas,  com os tempo, cicatrizam em parte, porém fica o substrato  de toda  aquela  tragédia,  combinando ressentimentos e saudades.

       A década  passada me convida  também  a  meditações  sobre  causas e consequências. Distanciados  no tempo,  posso, agora,  falar com mais  objetividade  dos  fatos  acontecidos, tentar  procurar  as raízes   dos atentados, separar  o joio do trigo e  adiantar  algumas  conclusões.

         Os americanos deram  enorme contribuição  em defesa  das causas da  paz  universal. Haja a vista,  a sua participação decisiva na  Segunda  Guerra Mundial, se excetuarmos  os crimes  de Hirochima e Nagazaki. Entretanto,  os governos  americanos dsa últimas  décadas têm  uma  parte  considerável  de culpa  pelo que  o  povo  americano  está  passando no que concerne  ao terrorismo  internacional contemporâneo. 

         As repetidas  intervenções  armadas   dos EUA  em países que não se alinharam  aos ditames da sua  hegemonia ( Cuba,  Vietnam do Norte,  países do Oriente Médio),  culminando com  as invasões do  Iraque,  do  Afeganistão, para citar  dois  casos paradigmáticos. 

          Invasões, o mais das vezes,  sem sentido e  decididas manu militari   sem consultas e aprovação do Conselho de Segurança da  ONU e desrespeitando    acordos e tratados  internacionais de organismos  e instituições que  lutam  pela  paz  no mundo,   pouco a pouco,  foram transformando a imagem  dos EUA, i.e.,  de uma  nação que se proclama  democrática e, na práxis, se  comporta  com a força  do seu  poderio  bélico e econômico, portanto,  incompatível  com a convivência harmoniosa  entre as  nações menos desenvolvidas e vulneráveis  a invasões.

         Por tudo isso,  a nação americana  perdeu  prestígio e, o que é mais grave,  passou a ser  motivo de ódio xenófobo  por parte  dos  humilhados e ofendidos. Não foram  poucas as vezes que  o mundo  viu  a bandeira  americana sendo  pisada, rasgada  ou  queimada em praça  pública por  países   que colocaram  o EUA entre os  seus piores   inimigos.

         Talvez uma das razões  mais fundas do terrorismo seja proveniente  dessa  realidade permeada de  ódios,  de ressentimentos  e de indignação contra os americanos.  E seguramente essa aversão  ao militarismo americano  não se limita  a países  do  Oriente, mas  se estende a outras regiões do  mundo, como a América do Sul,   a América Central e outras partes da Planeta.

       A aversão aos governos americanos  se nutre  de  antagonismos geopolíticos e econômicos. Os EUA,  ao longo da História,  são,  em última  análise,  os principais  responsáveis pela  imagem ruim e demonizada   que o grande   pátria de Lincoln  construiu  contra si  mesma.

           Em meio aos  agudos  problemas  econômicos e sociais enfrentados  hoje  pelos  Estados Unidos,  essa  homenagem aos mortos da tragédia de 11 de Setembro de 2001 deve ser um momento  oportuno para que os governos  norte-americanos  despertem  para  os seus  desatinos  belicosos e deem  solução  urgente  através da  retirada de forças de combate no Afeganistão.

          Que as promessas  de campanha do presidente  Barack  Obama sejam de fato   cumpridas,  retirando de imediato   suas  tropas   daquela região, não repetindo os erros do seu antecessor, que tanto mal fez aos EUA  com guerras  desnecessárias  causando  perdas humanas  tanto  do contingente militar americano quanto  de inocentes civis mortos no Iraque,  no Afeganistão, na Guerra do  Golfo.

         Vejo, hoje na tevê, na abertura  da cerimônia  em   honra  aos mortos do WTC o paradoxal  encontro de Obama e Bush  filho.A figura de Bush  filho, diante das câmeras, não combina  bem com  o perfil de Obama.

        Não se  constrói a paz, nem  se combate o terrorismo  trazendo à tona  um dos  piores exemplos  de comportamento político diante dos princípios  democráticos. A presença de Bush filho não faz sentido face à realidade  da História.

         Os Estados Unidos  ainda têm  tempo de reavaliar seus erros e se redimir diante dos massacres de suas invasões em terras alheias. A guerra ao  terrorismo   se faz com os instrumentos    da paz e de mudanças  de política  externa.  A paz e  reabilitação  norte-americana  só serão  alcançadas  se diálogo franco e aberto  houver entre os Estados Unidos e os seus declarados  inimigos.