[Maria do Rosário Pedreira]

Aqui há uns meses um grupo de escritores de nomeada provindos de países e continentes vários assinou um manifesto inovador, propondo a criação de uma Cidade Internacional da Literatura. Entre os signatários do documento encontram-se autores tão diferentes como Paul Auster, Pierre Michon, Javier Cercas, Alberto Manguel ou Peter Esterházy – e a ideia, ao que parece, não caiu em saco roto, parecendo até que a França apanhou a bola e quer, decididamente, marcar. É verdade que o país tem bons motivos para se considerar literário: não só pela sua história (tantos grandes autores, caramba!) e por publicar anualmente um número impressionante de obras literárias (basta ver a quantidade de novos romances que saem na rentrée – e não estou a falar de falsa literatura), mas também porque tem uma quantidade incrível de livrarias independentes e livreiros empenhados, que lêem os livros e não raro colocam na montra as suas opiniões junto dos títulos que apreciaram, num diálogo franco com os leitores. Além disso, a França possui já cidades da música, da arquitectura, da BD e do Design, fazendo-lhe falta uma cidade da literatura; outros países e cidades, como a Itália e a Alemanha, têm, por exemplo, casas da literatura que dinamizam o encontro entre público e escritores, pelo que talvez fosse redundante tornarem-se capitais literárias. Mas o objectivo agora não é apenas a promoção de autores e livros, é, sim, a criação de um espaço internacional partilhado para o debate de ideias, uma plataforma de encontro e trabalho que resulte em acções em defesa do património literário e da forma de consciencializar todos do valor que os livros nos trazem. E, se A França se põe a jeito e diz que Paris bem merece tornar-se capital da literatura, quem sou eu para dizer que devia ser noutro lado?