UM MUNDO GLOBALIZADO E CADA VEZ MAIS PARECIDO NAS INIQUIDADES PÓS-MODERNAS

CUNHA E SILVA FILHO

Vi, há poucos dias, um vídeo mostrando a cidade de Paris outrora justificadamente chamada La Cité-Lumière. É algo que me choca, pois a bela Paris que vejo e leio num opúsculo que recebi do esposo de   uma grande amiga da língua e literatura francesa, de título Paris, escrito, em linguagem fácil por Jean Marc Caré (Paris: Hachette, 1980, 80 p.).

O mencionado vídeo mostra vários lugares importantes parisienenses, nos quais se veem sujeira nas calçadas, debaixo de pontes perto da torre Eifell, em calçadas de várias ruas da cidade que, com justiça, foi chamada de “A vitrine do mundo" pelo nosso velho e saudoso crítico e historiador literário Afrânio Coutinho(1911-2000). Mon Dieu!

Não é possível que tanta gente entregue à próprias sorte,  deitada,  sentada no chão  e vivendo   sem teto como mendigos ou mesmo imigrantes de outros países, sem perspectivas de vida na capital mais civilizada do mundo.

A tristeza é grande e  dói na vista de quem acompanha, pelo vídeo,   recantos empilhados de sujeiras, de lixo, de gente sem destino,  de caos social. Cadê o narigudo presidente da França que só vi ultimamente oferecendo um luxuoso jantar a presidentes (inclusive, o  viajeiro   Lula e sua comitiva, bem vestido e em hotéis de luxo, convidados para discutir questões cruciais da vida na Terra.

O grande escritor americano Ernest Hemingway (1898-1961), que viveu um tempo em Paris nos bons tempos (literários) da “geração perdida,” junto com outros famosos escritores, estrangeiros da época, como Francis Scott Fitzgerald (1896-1940), autor do celebrado romance The greatest Gatsby, que há pouco li. Certa vez, ele escreveu sobre Paris e fez, entre outros elogios à cidade, a seguinte afirmação: “Paris é uma festa”. Outrora, escritores se encantaram com Paris: o também americano, poeta, e filósofo Ralph Waldo Emerson (1803-1882)), o poeta austríaco Rilke (), o irlandês Oscar Wilde (1854-1900), que, fugindo dos preconceitos e hipocrisias vitorianas, se exilou em Paris, onde foi sepultado.

Outra decepção que tive sobre a França foi  a cidade de Marselha. Numa reportagem abrangente feitaa pelo conhecido repórter Cabrini, vemos uma cidade bela sitiada pela violência das drogas e de traficantes rivais que que competem entre si pelos pontos de vendas de drogas.

Me pareceu  que estava vendo a realidade brasileira sobre o mesmo assunto. Triste males letais que estão tomando conta da globalização do tráfico e de outros aspectos da vida contemporânea. Vergonha para todos os governantes de muitos países do mundo que,  nesse questão, se assemelham na incapacidade de debelar ou minimizar a dinheirama e os  tremendos  malefícios  acumulados  pelos grandes traficantes em importantes  metrópoles e até menores cidades do mundo.

Neste ponto, torna-se evidente que os males de um país são os mesmos de tantos outros neste mundo em que os mesmos problemas se planetarizaram para surpresa dos que pensavam que a violência seria um problema localizado em apenas alguns países. Poucos países do mundo escapam ao crime organizado e à violência galopante

Cumpre que todos os países afetados por essas desgraças provocadas pelo uso de drogas desde agora se organizem em cúpulas a fim de que o tráfico internacional seja reduzido através de novas estratégias de combate efetivo e com ferramentas que possam cortar o mal pela raiz.

Acredito que só pela Educação e pela interferência da orientação das famílias sejam encontradas formas eficientes de se mudarem hábitos e vícios deletérios a partir da infância e sobretudo da adolescência com novas estratégias pedagógicas envolvendo campos de estudos transdisciplinares a fim de que as crianças e os adolescentes de hoje percebam os grandes males provocados pelo uso de drogas, atingindo todas as camadas sociais das sociedades em escala mundial.

O mundo ocidental sobretudo já bastante moralmente degradado nos seu modos de vida já levou um presidente, que não é do meu agrado, o Putin, a afirmar que o Ocidente é uma parte significativa de sociedades degeneradas em vários aspectos da vida pessoal e do comportamento coletivo diante dos costumes nos quais a licenciosidade prevalece sobre os valores éticos.

Sociedades que valorizam só o componente material hedonístico da vida sobrepondo-o aos valores espirituais e humanitários não poderão aperfeiçoar sua visão de uma vida saudável. A permissividade de pais com filhos seria também um dado provocador dos desastres morais e da perda do senso de humanidade entre os indivíduos.

Os bons exemplos de integridade de ações institucionais, quer governamentais, quer religiosas, quer educacionais, são fundamentais ao comportamento correto dos indivíduos. A Educação do indivíduo tem que ser integral, como queria um velho e sábio educador português, Mário Gonçalves Viana. Nem pode haver tampouco a perda dos valores formulados pelo humanismo. A desigualdade social é outro entrave ao aperfeiçoamento geral do indivíduo e fator degenerativo que descamba para a violência e outros males sociais. A não se dar atenção a essas práticas de vida saudável e austera, o resultado será um círculo vicioso de iniquidades e não virtuoso a que um país pode chegar, a começar pelo Brasil e, se possível,  em curto prazo. Por outro lado, a indiferença a tudo isso da parte dos governantes, será a barbárie e o colapso da civilização