OUÇA: "Tempo de Ciranda" , de Ribamar Garcia - a memória, o lirismo e o fazer literário
Em: 21/12/2025, às 00H25
[Lívia Maria - especial para Entretextos]
Em Viagem recente a Teresina, em entrevista ao Editor de Entretextos, prof. Dílson Lages, o escritor José RIbamar Garcia, da Academia Piauiense de Letras, apresentou O Tempo de Ciranda, seu 16º livro, situando a obra dentro de uma trajetória marcada pela diversidade de gêneros. Ao longo de sua carreira, o autor publicou cinco romances, sete livros de crônicas e outros títulos dedicados ao conto, gênero que, segundo ele, exige maior elaboração temática, enquanto a crônica nasce da urgência do cotidiano e o romance de um processo mais lento, amadurecido por pesquisa e imersão.
A obra é organizada em três partes: a primeira reúne oito contos voltados a temas mais amplos; a segunda traz oito crônicas centradas na memória, no cotidiano e na experiência urbana; e a terceira é composta por ensaios e comentários críticos sobre autores piauienses hoje pouco lembrados, iniciativa que o escritor define como um gesto de resgate da memória literária local.
Durante a conversa, RIbamar refletiu sobre as especificidades de cada gênero e destacou elementos que atravessam toda a sua produção, como o lirismo, a nostalgia e a atenção às pequenas experiências do vivido. Para o autor, o lirismo surge como um desabafo íntimo, relacionado às perdas afetivas, à infância e à formação pessoal em Teresina. Já o humor, herdado da mãe, aparece como recurso para suavizar a dor e, ao mesmo tempo, operar como crítica social, especialmente contra o falso moralismo.
A entrevista também abordou crônicas específicas do livro, como a que recupera a figura de Manduladino, personagem emblemático da história popular de Teresina. Ao retomar essa memória, Ibamar denuncia o abandono do patrimônio cultural e a falta de preservação de figuras e espaços que marcaram a história da cidade.
Outro destaque é a crônica dedicada à Baixa da Égua, região central de Teresina onde o autor viveu a infância. O espaço é descrito como território de brincadeiras, convivência comunitária e formação afetiva, experiência que se amplia para o leitor por meio da identificação com suas próprias memórias de infância.
Símbolo recorrente da obra, o quintal aparece como lugar de imaginação, liberdade e descobertas, mas também de perdas. Ao narrar suas experiências nesse espaço — marcado por árvores, animais e brincadeiras —, o autor reflete sobre o desaparecimento desses quintais e do verde urbano, associando essa transformação à perda de vínculos e afetos nas cidades contemporâneas.
Para RIbamar, o caráter universal de O Tempo de Ciranda está justamente na força do particular. Ao narrar suas memórias, paisagens e personagens, o escritor ativa lembranças coletivas e permite que o leitor se reconheça na experiência do outro, reafirmando a literatura como espaço de encontro entre o vivido individual e a memória comum.
Ouça:
José Ribamar Garcia é membro da Academia Piauiense de Letras.

