Cena de "Sob o sol da Toscana".
Cena de "Sob o sol da Toscana".

Reginaldo Miranda[1]

 

Não se pode negar que bons filmes podem ajudar a divulgar lugares, despertar interesses e aguçar a curiosidade de espectadores. É o caso de “Sob o sol da Toscana” (Under the Tuscan Sun), filme de Audrey Walls, baseado na obra autobiográfica de igual título, da escritora Frances Mayes (2003). Embora não protagonize uma história original revela belas imagens da encantadora Toscana, com suas cidades medievais, especialmente a pequena e aconchegante Cortona, situada no alto de uma colina, com muralhas e labirintos medievais.

Outro filme interessante de divulgação da Toscana é “Cartas para Julieta” (Letters to Juliet), dirigido por Gary Winick (2010), onde os protagonistas viajam pela região de Siena e Val d’Orcia, buscando reconstituir um antigo romance, em cujo trajeto vão aparecendo imagens belíssimas. Em ambos os filmes pode-se dizer que a aprazível e fascinante geografia da Toscana assume papel preponderante, despertando curiosidades e simpatia.

No entanto, a nossa afeição pela região não vem de hoje, mas desde a juventude, sobretudo por Florença, cidade mais importante da Toscana, desde quando tomamos conhecimento das obras de Dante Alighieri e Niccolò Machiavelli.

Florença é uma velha cidade italiana do primeiro século antes da Era Cristã. Quatro séculos depois, já se constituíra em próspero centro comercial do Império Romano, cuja importância se consolidou na Idade Média. Com o tempo formou-se uma casta de comerciantes e banqueiros que assumiram a sua liderança política e administrativa, consolidando-se como capital da província de igual nome e da Toscana. Em 1348, perdeu a metade de sua população abatida pela peste negra, entrando em declínio até ser liderada pela família Médici, formada por ricos banqueiros da cidade. Esses capitalistas assumiram seu controle administrativo desde 1434 até 1737, apoiando políticos e artistas. Sob a liderança de Lourenço de Médicis, o Magnífico, no final século XV, a cidade tornou-se um dos principais centros culturais da Europa, atraindo e patrocinando grandes artistas. Foi berço do Renascimento, sobressaindo com as obras de Michelangelo, Da Vinci e Botticelli, dentre outros.

Por seu turno, em O turista a velha e airosa cidade de Veneza, com seus longos canais fluviais, assume ares de personagem da história. Na agradável companhia de Angelina Jolie, no papel da misteriosa Elise Clifton-Ward e do veterano Johnny Depp, que interpreta um professor de matemática norte-americano, perseguidos por mafiosos e pela polícia, deslizam em barcos por canais entre prédios belíssimos que dão a aparência de uma cidade flutuante. É uma ótima pedida para conhecer-se a romântica cidade do Mar Adriático, construída nas margens e ilhotas de um lago, interligada por pontes e passagens. O filme foi dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck (2010) e, embora bastante criticado, é um suspense elegante, sem exageros de cenas de ação, valorizando a deslumbrante paisagem de Veneza.

Para não ficar apenas na Itália, lembramos outro filme que revela peculiaridades do belo interior da França, “Paris pode esperar” (Paris Can Wait), de Eleanor Coppola (2016). A personagem central é a atraente atriz norte-americana Diane Lane, também protagonista de “Sob o sol da Toscana”, que interpreta a personagem Anne, fiel esposa de um produtor de cinema que a ama, mas afogado em trabalho, não tem tempo para dedicar-se ao casamento. O casal participa do festival de cinema de Cannes, tendo o marido de voar para Budapest, em face de compromissos profissionais. Nessas circunstâncias, a esposa viaja de Cannes para Paris em automóvel, na companhia de Jacques (Arnaud Viard), um solteirão sedutor, sócio do marido na produção cinematográfica, rompendo um percurso que deveria demorar sete horas. Durante a viagem Anne, bela, charmosa, no auge da maturidade, desperta involuntariamente o desejo de Jacques, enquanto vai revelando sua intimidade, sonhos e frustações. Contudo, o que interessa para o momento, são as muitas paradas pelo caminho, onde os personagens passam a se conhecer melhor, enquanto apreciam belas paisagens francesas, restaurantes, hotéis acolhedores e preciosidades históricas. É uma jornada de descoberta, tanto interior, pelo que passam a conhecer e revelar de si mesmo, quanto exterior, pelo que conhecem e revelam da paisagem geográfica, histórica e humana da França.  Vale a pena assistir.

 


[1] REGINALDO MIRANDA, advogado e escritor, membro efetivo da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Contato: [email protected]