[Washington Ramos]

     Ressurgir, ressuscitar é uma das impressões que me ficaram após ler a 2ª edição de Ressuscito na cidade suicida, livro de Alex Sampaio Nunes, publicado pela dEsEnrEdoS, com projeto gráfico e capa de Adriano Lobão Aragão e Ravenna Ítala. A revisão, impecável, é de Conceição Neri. O prefácio é de Sueli Rodrigues.

     Trata-se de um livro que não se resume a um só tipo de texto. Contém versos, contos e crônicas, todos com frágeis limites entre si. Parece que o autor fez essa fragilidade, essas poucas fronteiras entre seus escritos propositalmente, como recurso estético, uma metáfora da fragilidade que é a vida humana, a qual sempre pode ser reinventada, ressuscitada, principalmente numa cidade como Teresina, onde o índice de suicídios é alto, inclusive entre jovens. Portanto é sempre tempo de ressuscitar na cidade para evitá-los.

     No conto Desconfio da cidade, o narrador-personagem, ao passar pela avenida Frei Serafim, indo para casa e depois voltando para dormir em um de seus bancos, parece estar dando um recado aos autores do projeto, já noticiado na imprensa, que, se aprovado, vai desfigurar essa avenida tão querida pelos teresinenses. É como se ele dissesse assim: “Olhem, essa avenida é como se fosse minha casa, não venham destruí-la.” É claro que essa dormida é uma declaração de amor à Frei Serafim e, por extensão, à própria cidade também. Tudo isso está colocado subjetiva e conotativamente. Nada é explicitado. Tudo é sugerido para o leitor captar. É assim que funciona a boa arte literária. “Sugerir, eis o sonho”, já dizia o poeta.

     Em outros textos do livro, há críticas duras a Teresina, o que equilibra a relação do autor com esta urbe, pois nem só de flores vive o amor.

     A organização da obra em atos lembra o sentido de dramaturgia que ela contém. Vários textos seus têm caráter de encenação, visual. Podem ser declamados num recital ou adaptados para o cinema e o teatro . É sempre positivo quando um livro facilita a transposição de seu conteúdo para outras formas de arte. Hoje o diálogo entre diferentes manifestações estéticas está na ordem do dia. É uma tendência mundial numa obra piauiense.

     Destaca-se também a dura sinceridade com que o autor escreve seus textos. Alguns são muito fortes e podem até ferir algumas suscetibilidades melindrosas. Mas a ficção e a poesia de valor se efetivam também pelo retrato nu e cru de algumas cenas.

     Pela presença de Teresina como ambiente e tema ao mesmo tempo local e universal, pela sinceridade do autor e a fluência de sua linguagem, dentre outros fatores positivos, Ressuscito na cidade suicida é um livro de valor.

     Eu o recomendo.