Quando o tempo vira ar
Em: 11/12/2006, às 12H37
Para Adalgisa Pires de Carvalho e Silva (em memória)
“E quando dezembro chega, todas as vezes que adentro àquela casa, ainda vejo Dasinha, divinamente gorda, sentada na rede a confeccionar rosas ou a rezar. Ainda vejo os morcegos em peripécias na ante-sala, o gosto embriagante dos jasmins no tato de cada compartimento; o quadro, em que reluzia como ilustração um buquê de flores e as palavras santas: “O senhor é meu auxílio, não temerei!”. Ainda vejo a cidade, contemplando as cores do presépio da velha Senhora, cujo destino optou pela silêncio da fé”.
“Salve a Rainha do Céu! Salve a Padroeira de Barras do Marataoã...”
            Dezembro desabrocha no chão
            de onde a terra leva e leve
            o cheiro da chuva e dos jasmins
da porta ao quintal.
            Dezembro de Dasinha e das dores
            da Senhora Nossa da Conceição
            no peregrino passo
os olhos molhados de preces
            Ah! Dezembro no teto (des) habitado
            de morcegos onde a manhã estrelas desenha
            onde os vitrais se alargam palpitantes
onde a porta-a-sala-e-a-casa:
            A cidade se abre
            para Jesus renascer 
            segurando as mãos de Dasinha
onde imagem-ação, o esperar do ano novo.
            Ah! O ar de agora e de sempre
            no Pai Nosso e em Cada Dia
            do quintal à porta
onde a bisavó armava
            as margaridas nas janelas
            e o carmim do céu
            para o vento (ex)altar a procissão.
            
            Dezembro em tijolos
            na cabeça do povo
            os dedos derretendo em velas
e a luz do fogo em filas
            e os férteis pés e firmes
            na comum-união de todos as classes:
            dezembro e a promessa
de que o tempo vira ar.
           Dílson Lages Monteiro
            

