[Washington Ramos]

     Eu já disse antes o quanto acho bonita a expressão PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Se não disse, pelo menos já pensei muito em sua beleza. Já me imaginei dizendo-a muita gente, ou escrevendo sobre essa expressão. Desde criança que a admiro.

     No entanto as pessoas que têm ocupado o cargo de presidente da República de meu país, nas últimas quatro décadas, têm me decepcionado muito. Nenhuma dessas pessoas merece o nome de estadista. Não vou fazer o histórico de todos os chefes que esta nação teve nos últimos quarenta anos. Seria muito enjoativo se o fizesse.

     Como sou um cidadão que gosta de cultura, gostaria apenas que as pessoas que já ocuparam a função de Presidente da República Federativa do Brasil (e a que a ocupa atualmente) demonstrassem um pouco de simpatia pela cultura em suas diversas manifestações  como a literatura, a música, o teatro, a dança, o folclore, o cinema... Não tenho notícia de que, de 1980 para cá, pelo menos um de nossos presidentes tenha elogiado uma obra literária, ou comentado uma peça teatral ou um espetáculo de dança, ou se admirado da arquitetura de Brasília etc. Nunca vi fotografia de nenhum deles lendo um livro na biblioteca do Palácio do Planalto. Será que algum já frequentou a Biblioteca Nacional ou visitou a Academia Brasileira de Letras? FHC é uma exceção e foi eleito para a ABL em 2013, dez anos depois de deixar o cargo máximo do país. Mas, bem antes dele, Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek estiveram nesta última instituição.

     As notícias que tenho, para minha tristeza, é que nossos últimos sete presidentes, incluindo o atual e excetuando Itamar Franco, disseram isto: “Prefiro o cheiro de cavalo ao de povo; quando nasci, meu pai disse que eu tinha aquilo roxo; não sejam vagabundos num país de miseráveis; cadê as mulheres do grelo duro?; eu quero saudar a mandioca; não sei nem por que estou aqui; querem botar na nossa hemorroida...” E por aí vai. Estas são apenas algumas, mas é enorme o número de tolices e boçalidades proferidas por mandatários da nação, que deviam ser pessoas mais comedidas e sensatas em suas falas, comportando-se como líderes gentis e com um pouco de simpatia pelo mundo cultural.

     Mas, pelo andar da carruagem e olhando para o cenário político do país, parece que minha esperança de ver na presidência alguém com algum verniz cultural (já tivemos um sociólogo no Planalto, mas não foi muito diferente dos semianalfabetos que estiveram lá) ainda vai permanecer por muito tempo apenas como esperança realmente. Dos dois candidatos que são indicados como os mais cotados para a eleição presidencial de 2022, nenhum demonstra gostar de ler, nem de cinema, nem de teatro, nem de arquitetura, nem de dança, nem de folclore...

     A expressão PRESIDENTE DA REPÚBLICA vai continuar como uma ilusão minha sem concretização na vida real, ainda por bastante tempo.