POEMITOS DA PARNAÍBA

POEMITOS DA PARNAÍBA

Textos: Elmar Carvalho

Charges: Gervásio

HOSANA

11.           Hosana

 

Hosana nas alturas!

Hosana nas alturas

de sua vida sofrida

de pobre e alienada.

Interventora dos gabinetes

(cediam-lhe os pequenos tronos

de burocratas para rirem

o riso fácil e gratuito).

Cobradora de impostos e taxas

(davam-lhe ínfima moeda em

troca do riso rasgado).

Andava sempre com sua

roupa branca de marinheiro –

primeira e única almirante:

            alma mirante

            alma errante

            alma navegante.

Sempre de

branco como as nuvens

que alvejavam em sua

cabeça de nefelibata.

BOA IDÉIA

12.           Boa Idéia

 

Um dia

ou melhor uma noite

Boa Idéia teve a idéia

de construir um telescópio

para sonhar/sondar aqueles pontinhos

cheios de pontinhas chamados estrelas.

Galileu Galilei da Parnaíba

construiu sua luneta

desvendou estrelas e planetas e cometas

e perscrutou os umbrais do infinito.

Autodidata da astronomia

com seu telescópio passeava

pelos “mares” da lua

dizendo coisa com coisa

que ninguém sabia.

Brincava de bambolê

com os anéis de Saturno.

Jogou bola de gude

com as luas de Júpiter.

Morfeu o levou para ser

centurião de galáxias. Mas

voltará não num rabo de foguete

mas na caudabundante flamejante -

mente reluzente do cometa de Halley.

RODRIGÃO

13.           Rodrigão

 

Que dizer do Rodrigão?

Que ele era um novo Atlas

a sustentar em suas costas

a esfera azul do sonho?

Não. Era um atlas de carne e osso

porque sua cara vista de perfil

era um mapa da América do Sul.

MARIA DAS CABRAS

14.           Maria das Cabras

 

Passava com seu passo leve

– quase voo de pássaro –

com a suave elegância

de uma cabra montês.

Rápida cortava as

avenidas e as praças

até que a molecada gritava:

– Maria das Cabras!...

Maria subia a saia:

– Taqui o chifre da cabra!...

Os moleques com as cabeças

cheias de idéias e fantasias

em suas alcovas ou banheiros

se escondiam: Maria das Cabras

surgia como uma fada encantada

entre véus diáfanos que se

es~~~~~gar~~~~~ça~~~~~~vam.

MARECHAL

15.           Marechal

 

Maluco, se dizia alta

autoridade do planalto.

Ficava fulo da vida quando

chamado de soldado ou de

Madame de Chaval.

Não andava: marchava

de farda e botas.

Davam-lhe plaquetas e selos

e pequenas chapas de metal:

eram as condecorações e os

distintivos com os quais desfilava

entre continências de

risos e zombarias.

JOÃO ORLANDO

16.           João Orlando

 

Surdo, surdo como um surdo,

aprendeu com Bilac a ouvir estrelas.

E as ouvia nas lindas noites estreladas

de Parnaíba.

Em sua surdez de pau

ouvia o bater dos corações das pedras.

Ouvia o bang-bang dos colts

em suas leituras de faroeste.

Com sua morte silente

aprendeu a ouvir o silêncio

absoluto da morte.

PACAMÃO

17.           Pacamão

 

– Eu sou um monumento

anatômico e biotônico

onde a lenda se mistura com a realidade;

onde o homem se confunde com o mito.

E neste instante, sinto-me

forte como um elefante!

– Cadê a tromba? – perguntou um gaiato.

– Está aqui – retrucou Paca/mão na braguilha.

Pacamão: pacamônicos folclores

de ditos repetidos pela boca

do povo – arma de repetição

deflagrando gargalhadas.

EXPEDITO MACIEL

18.           Expedito Maciel

 

Enchia galões de gasolina

até a borda de cerveja

para beber e banhar.

Comprava defuntos frescos

para fazer o enterro.

O caixão seguia de carroça,

enquanto a banda tocava

por entre goles de aguardente.

Acendia charutos cubanos

com cédulas de cinco mil réis.

Dirigia carro importado dos EUA

vestido com roupa de estopa

de saco de açúcar.

Expedito Maciel,

Howard Hughes da Parnaíba,

milionário e excêntrico,

perdulário e esquizofrênico,

filho pródigo de si mesmo.

LUSE

19.           Luse

 

Sua saia rodada

sua saia rodando

era uma festa de

cores e folhas e flores

nas festas de que gostava.

Das pontas estelares de seus dedos

saltavam saltitantes valsas

pelos tec-tec teclados do piano.

Hoje ela estendeu um arame

nas pontas da lua nova,

colocou uma estrela e toc-toc

toca berimbau.

MÁRIO REIS

20.           Mário Reis

 

Vulgo Mário Bola, tinha

a graça de um tatu bola.

Orfeu de novos carnavais

carregava o encantamento

dos sopros (marítimos) que

transformava em música em

sua gaita – caixa de mágico som.

Entre a música e a fofoca

uma piada de recheio.