OS RATOS VENCERAM

     Em 1946 e 1948, o escritor Fernando Sabino morou em Nova York e escreveu muito sobre essa megalópole. Grandes escritores estrangeiros moraram e alguns ainda moram lá, mas, que eu saiba, nenhum escreveu tanto sobre essa cidade norte-americana quanto esse brasileiro. Seu livro A cidade vazia é a respeito da Big Apple. Essa obra é constituída por textos que variam entre a crônica, o conto e ensaios despretensiosos, tudo repassado de humor e interessantes reflexões numa linguagem simples, direta e objetiva, o que facilita muito a leitura.

     Em um dos textos de A cidade vazia, o autor discorre sobre a existência de ratos em Nova York e outros graves problemas. Chega a narrar que uma mãe fica acordada à noite, vigiando seu filho no berço para que ratos não o ataquem. Esse texto me lembrou de várias reportagens exibidas na televisão e na internet sobre a enorme quantidade de ratos em Nova York atualmente. Além disso, fizeram um filme com o Título Ratos em Nova York. Então, de 1948 a 2025, ou seja, em quase 80 anos, esses roedores não foram contidos e se multiplicaram absurdamente, e lembremos que, antes de 1948, eles já estavam lá. Segundo alguns sítios na web, existem aproximadamente três milhões de ratos na cidade. Vídeos e reportagens têm exibido cenas chocantes de ratos passando por cima de um mendigo; ratos andando no metrô... A coisa é tão absurda, que duas medidas chamam a atenção: a primeira é que foi criada uma secretaria para tentar resolver o problema, e a chefe dessa pasta é chamada de A Czarina dos Ratos; a segunda é que algumas agências de turismo já criaram programas pela cidade que levam turistas para que estes vejam ratos andando, comendo, entrando e saindo de tocas e em outras situações (para ganhar dinheiro, o ser humano é capaz de ações as mais bizarras possíveis.).

     Ora, se a coisa já chegou ao ponto de se tornar atração turística, então é claro que os ratos venceram os humanos em Nova York. Embora não disponham de tecnologia nem sejam considerados tão inteligentes quanto homens e mulheres, os ratos vão escapando de ratoeiras, de venenos e até de apetitosos biscoitos preparados tecnologicamente para torná-los estéreis.

     Dessa derrota dos novaiorquinos para os ratos, pode se tirar uma lição a ser ensinada aos brasileiros, principalmente aqueles que têm uma admiração exacerbada pelo tão maravilhoso primeiro mundo: lá em Nova York e em outras cidades da Europa e dos EUA, existe também a incompetência, a sujeira, a falta de higiene, a burrice e muitos outros defeitos.