Cunha e Silva Filho

 

                          Somos, por natureza, seres em luta contra as adversidades de toda espécie: sociais, físicas, religiosas, políticas, filosóficas, econômicas e principalmente contra  aquelas ainda mais poderosas e incontroláveis, as  quais a mão humana, com todo o seu atual arsenal tecnológico-científico, jamais poderá alterar. 
                         A nossa luta na Terra é, pois, uma luta de Sísifo, de contínuos reinícios, de suores repetidos, de energias retemperadas. Ainda bem que o ser humano é dotado dessa qualidade: a de resistir sempre, a de não se deixar vencer diante de tantas calamidades, sofrimentos e dores sem fim. A capitulação ante tantos desastres, sobretudo os incontroláveis, porque oriundos das forças da Natureza, a que o idioma inglês chama ambiguamente de acts of God, obviamente seria a extinção da humanidade.

                        Por esta razão, se justifica o papel da resistência às adversidades como ações de Sísifo.
O terremoto que se abateu há pouco  sobre  Christchurch, Nova Zelândia, é mais um exemplo de nossa atribulada condição de criaturas dependentes da inevitabilidade das condições geológicas do Planeta.  Em qualquer parte, a dor é a mesma. Não poupa pobres nem ricos, nem nacionalidades, nem mesmo essas criaturinhas inocentes, que são as crianças. Tudo é destruído pelas forças da estrutura da Terra.
                       Belas cidades, lugares magníficos, construções imponentes, igrejas grandiosas , tudo se desmorona diante da inclemência das forças naturais, dos abalos sísmicos, das acomodações das camadas profundas do solo.
                      Ninguém está a salvo de  tragédias desta ou de outra natureza,  mas são todas em geral  provocadas por alterações do solo universal ou de condições climáticas. A condição da existência é  mesmo precária e imprevisível em muitos casos. Não é de hoje que as populações mundiais sofrem,  porém há alguns sinais que acenam para certas circunstâncias. O Planeta esta mal cuidado pelo homem. As condições de países ricos têm uma grande parcela de responsabilidade por muitos desastres sofridos em várias  partes do mundo. A Terra está se exaurindo.  Sofre com a exploração das minas, com a sede tentacular de descobrir cada vez mais reservas petrolíferas, até no mar, quando a ciência já deveria estar muito mais adiantada no que tange a substituições de um produto que tem limites de reservas. 
                       Mas, os humanos são teimosos e imediatistas, são individualistas ao extremo, e pensam que as riquezas da Terra não acabam. O capitalismo não tem juízo e, se o tem, o seu limite é a cegueira de não atentar para todos esses problemas que se avolumam em escala descomunal. Não enxergam que o excesso de produção econômico-industrial tem que ter equilíbrio de planejamento que não pense só nos lucros do capitalismo mundial interligado - o que não significa solidário e pacífico - firmemente entre os países, mesmo entre países de sistema de governo teoricamente inimigos. Aquilo a  que visam, em última instância, seja a China, seja os Estados Unidos, é um componente vital e intransferível : o lucro, a riqueza em dimensões ciclópicas que vão  levando de roldão, como os tsunamis, o que esteja travando seus objetivos e estratégias, num ritmo de gold rush que não respeita valores sagrados da pessoa humana, de povos, de condições político-ideológicas das nações. 
                       Enquanto isso, em linhas paralelas aos males humanos  contra outros humanos,mha  os sinais de um outro competidor  que   entra em cena, e para este não há diálogos inócuos e festivos, não há “faz de conta” para que, ao final e ao cabo, tudo permaneça quase na mesma situação, ou seja, a do desequilíbrio entre o que se extrai do Planeta e o que não se poderá  nele repor. Esse outro competidor, que entra em cena, repito,   não está pra brincadeiras: age e o faz com fúria e sem misericórida, visto que reúne em si  as forças naturais que os homens teimam em não respeitar indefinidamente.
                       Ora, o resultado desse diálogo quase mudo, mas regado a boas hospedagens em luxuosos hotéis do mundo civilizado (inclusive o nosso país), com tudo pago regiamente pelos respectivos países participantes, ou seja, pela arrecadação de impostos de seus povos, é que muito pouco se tem avançado quanto à redução de taxas de poluição dos países mais responsáveis diretamente pelos níveis altíssimos de deterioração da atmosfera do Planeta.
                      A Terra,, como todos os planetas e outros astros do Universo têm suas leis próprias regidas por razões que remontam à sua Origem. Nenhum pedaço da Terra está isolado do conjunto da sua estrutura inteira. É como riscar um fósforo com os outros fósforos na mesma caixa. Ao riscar apenas um, todos serão atingidos no fogo comum e irreversível. Há ainda lugar para especulações filosóficas ou espirituais, conforme as  convicções do pensamento, no que respeita à dependência entre o céu e a Terra. Os sinais da Natureza não vêm em vão. 
                     É preciso amar a Natureza para compreender esses sinais. São como o amor das estrelas de Bilac daquele soneto célebre em que dois amigos, conversando, um não entende por que o outro por ele chamado de “tresloucado,” ouve e conversa com as estrelas. O amigo, que para o outro tinha perdido o senso, simplesmente, conclui o diálogo afirmando que só quem pode ouvir e entender as estrelas é quem sabe amá-las e entendê-las.