[Maria do Rosário Pedreira]

Conhecem-se mal os editores de outros países, mas muitos têm fama internacional e construíram catálogos e editoras que fizeram ou estão a fazer história. Embora nunca tenha tido grandes relações com editores de língua alemã, sempre ouvi falar de Michael Krüger, poeta, romancista e editor da Hanser, uma das editoras mais literárias em toda a Europa. Num dos seus poemas, sobre a memória, Krüger diz: «Às vezes, a infância manda-me postais.» Recentemente, li uma entrevista sua e fiquei tocada por este verso e muito do que ali afirmava. Entre outras coisas, que o texto tem vida própria, na medida em que pode ser lido de formas completamente distintas por gente culta, inteligente, burra e ignorante, e pelo facto de os livros durarem para além da vida do autor, com o qual se relacionam apenas porque o seu nome figura na capa. Acrescenta que, como organismos vivos que são, não podemos deixá-los morrer – e que os editores são os únicos que podem velar pela sua vida depois da morte do autor. Mais adiante, depois de confessar nunca publicar um livro com o qual nada aprenda, remata: «A vida de um ser humano é demasiado curta e, por isso, devíamos ler os bons livros que existem.» Confesso que às vezes sinto o mesmo.