Certa vez traduzi do francês um poema de Vladimir Soloviev (Moscou, 1853-1900) e um leitor do meu blog fez um comentário interessante:

POEMA

VLADIMIR SOLOVIEV
(Moscou, 1853-1900)

Amada criança não vê você
Tudo que percebemos
Reflexo é, uma sombra
Do invisível para nós?

Criança amada não compreende
Que da vida cotidiana o fracasso
É eco deformado
Das triunfantes harmonias?

Amada criança você não sente
Que o que importa nesta Terra
É o que um coração diz a outro coração
Na mensagem silenciosa?

(Trad. Rogel Samuel)


"De Sousa disse...
Creio que o poema é muitíssimo bom.
Mas a tradução não consegue dar uma pálida imagem da sonoridade e do ritmo que seria necessário tentar transpor para a língua portuguesa. Mesmo assim, bem haja pela tentativa e pelo resultado!

Avelino de Sousa"

Eu agradeço ao leitor, que sei ser um especialista em literatura russa.

A primeira estrofe me lembra algo que li em Nietzsche.
Nietzsche parte do sonho como fenômeno psicológico para estabelecer os fundamentos de sua estética. A arte do poeta é dizer a arte do sonho.
A beleza do mundo dos sonhos é para nós a condição prévia de todas as artes plásticas e também uma parte essencial da poesia.
Entretanto, o sonho nos deixa a impressão de não ser mais do que uma aparência. Todo homem dotado de espírito filosófico pressente que, por trás da realidade que se descortina aos sentidos, se encontra uma “outra” muito diferente, sendo que a primeira não passa de uma aparição da segunda.
O filósofo percebe a realidade como um puro fantasma, como uma imagem de sonho.