No início do primeiro capítulo, "Chão em ardores", do livro de Dílson Lages Monteiro vemos dois tipos de deslocamentos: um aparente, outro coreográfico.

O primeiro é topológico - o Rio Marataoã aparentemente se desloca. O segundo é nervoso, feminino e excita o ar com suas coreografias: o leque da balconista.

Ainda que não sabemos o que vai acontecer depois, aí está um "deslocamento". Será que o livro vai contar uma ação transformadora, de mudança social, de ação verbal, de revolução social?

O leque da balconista está inquieto, erótico, sedutor.

A seguir, diz o texto:

"O rio já baixava o curso d’água. Dali nem se necessitava atravessar as figueiras, nem descer rua abaixo até a margem... Dali se via a bola de luzes queimar os olhos e deitar o fogo do céu sob a lâmina d’água. O mesmo fogo que ruborizava os corpos e confundia a visão da manhã".

Descreve o quadro, o fato, mas já com ações de baixar, atravessar, descer, sob o sol abrasador.

Depois continuo.