Há, cremos, na vida de quase todos nós – claro que não na dos santos – dias em que, imbuídos de estranhos sentimentos, muitos dos quais transformados em ações de extrema mesquinhez e exacerbada pequenez, protagonizamos atos sórdidos, principalmente, na forma de desatinos verbais, que beiram a irracionalidade.

            Quanta vez, reunidos em mesas familiares ou de amigos, não levamos adiante ou alimentamos discussões ásperas - quando o mais indicado seria tergiversarmos - apenas porque não medimos as consequências das opiniões que manifestamos? Quantas vezes, por não nos calarmos, pelo contrário, por fazermos questão de externar nossa intrínseca antipatia, permitimos que explícitas falhas de nossos interlocutores não passem despercebidas de muitos dos participantes do evento? Quanta vez fornecemos combustível a conversas ou discussões, desnecessariamente, levando-se em conta que a ação ideal, mais inteligente e eficaz para o momento seria a mudança de assunto ou de tema, haja vista o prolongamento dos debates ou arrazoados sobre o que se estaria falando, possivelmente, somente viesse causar dissabores e desapontamentos despiciendos?

            Não é incomum, nessas mesmas ocasiões ou reuniões, ao darmos nosso ponto de vista, por vezes dispensável, eis que não solicitado, provocarmos, senão a ira de alguns, a clara sensação de que deles estamos ironizando ou, mesmo, ridicularizando-os, publicamente. Pensamos e, dado nosso egoísmo, deselegância ou falta de tato, geralmente, levamos a efeito atos que tentam demonstrar ou nos transformar em donos da verdade. Como se sobre aquilo que julgamos certo ou errado não coubesse qualquer recurso, tendo em vista a insuspeita clarividência, a transparência e a incontestabilidade da verdade que expomos.

            Ponto de vista e opinião, por concretizarem ou materializarem a manifestação de um atributo individual, exclusivamente humano, o sagrado direito à liberdade de expressão, como tal, são indiscutíveis, apesar de, não raro, contestáveis. Por conseguinte e, obviamente, não se deve considerá-los verdades científicas. Erra, portanto, quem quer ou deseja subordinar às suas opiniões os julgamentos que outros fazem a respeito daquilo que se discute baseado em instrumentos e expedientes científicos ou legais.

            Talvez seja pertinente rememorar e ressaltar, por ser, mais do que apropriado e oportuno, lógico, quando participarmos de assembleias ou meros batepapos, aquilo que alguém já disse: não deve criticar o argueiro no olho do outro aquele que está com uma trave no próprio olho.

                                    Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense

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