O Padeiro Etrusco

 

Antonio Carlos Rocha

 

Copacabana, RJ, uma tarde ensolarada, anos 1990. Saio do Metrô Siqueira Campos e procuro, na rua de mesmo nome, o número do edifício que vai me levar à antiguidade etrusca, aí por volta de 1200 antes de Cristo.

 

Em uma sala com ambiente esotérico, anuncio-me e sento-me, aguardando a hora marcada. Folheei algumas publicações disponíveis, a secretária que é a esposa do astrólogo me oferece chá, café ou água. Sorvo alguns goles de H2O, a água e não o refrigerante.

 

Logo ele sai lá de dentro, vestido de branco, calça e camisa, eu já sabia que ele é espírita kardecista, na vida civil engenheiro e equaciona bem as ciências exatas com as ciências ocultas.

 

Era o dia da leitura do meu mapa astral cármico. Eu já havia, quinze dias antes, passado lá e entregue a minha data de nascimento, horário e local.

 

A leitura e interpretação do mapa astral foi longa, quase uma hora e meia, mas o que me chamou a atenção é ele ter dito que, no período da civilização etrusca eu tinha sido um comerciante: “amado por muitos e odiado por muitos”.

 

Não sei o que fiz ou deixei de fazer na época, não me lembro. Budistas afirmam, quando atingirmos a completa iluminação, nos lembraremos de tudo. Vou então saber as coisas boas que fiz e as ruins também ... coisas da vida ...

 

Via intuição mediúnica, deduzi mais adiante que fui um padeiro, lá na saudosa Etrúria. Alguns motivos familiares me confirmaram a intuição, desculpem, mas não vou entrar em detalhes, senão os parentes vão reclamar comigo e vão alegar que é algo pessoal.

 

Contente, constatei que já enrolei muito as massas (alimentícias). Também já bati muito. Lembro que lá no meu querido Gama, DF, a padaria próxima tinha um tipo de pão que se chamava “sovado”. O trigo apanhava que não era brincadeira, até chegar ao ponto. E daí descobri que sovar a massa, socar a farinha de trigo no preparo é um bom exercício psicoterápico. Se você está na bronca com alguém, em vez de bater no dito cujo, que pode ser complicada a reação da outra pessoa, você pode bater na massa que prepara o pão e, como vai ao forno, a quentura queima qualquer negatividade nesse descarrego.

 

Na minha década de 20 anos, andei estudando macrobiótica, naturalismo e afins e assim aprendi a fazer pão integral, fiz alguns. Uma coisa boa é pão dormido, você pode aquecer, passar manteiga ou algo que queira e saborear este belo alimento.

 

Praticamente se pode fazer pão de tudo, pão com tudo, pão contudo, estou falando no sentido positivo, construtivo, nutritivo.

 

E o “pão de minuto da Princesa”, você conhece? Que até foi motivo de referência no livro “O Trapicheiro”, do escritor Marques Rebelo (1907-1973). Na página 462, o autor nos diz: “pão de minuto da Princesa” aparecia à do mesa do café no caso de visitas imprevistas”.

 

Muitos falam em “pão que o diabo amassou”, mas tendo em vista que sou um místico, prefiro o “pão do anjos”, “pão da alma”, “pão das crianças”, “pãozinho de Santo Antonio”.

 

Outro dia, aprendi que os famosos biscoitos recheados, redondinhos e doces – que o médico me proibiu – tem como origem as hóstias consagradas ... expliquei ao doutor à minha frente:

 

- É que eu vejo os recheados de chocolates, como se fossem hóstias ... e assim o ato de saborear a “bolachinha casadinha” é um momento solene, divinal !

 

-É, mas você faça outro momento solene com o Sagrado, sem o açúcar e o recheio.

 

Por sorte, aqui em Santa Teresa, onde moro, uma lojinha criou um quadradinho orgânico, sem sal e sem açúcar, mas com aipim que é muito bom !