MUNDO, NOS AJUDE!    (Inédito)



                                                                                                          Cunha e Silva Filho



                           As mulheres muçulmanas, as palestinas, mães, esposas ou irmãs, seja lá o que forem, pedem socorro ao planeta Terra. “Nos ajude! Nos ajude!” Nem mesmo as mesquitas, templos que, em outras épocas, eram respeitados como locus privilegiado das orações e reverências, hoje são poupados por inimigos da paz. Ou melhor, se transformaram em alvos das balas de fuzis, rajadas de metralhadoras ou mesmo tiros partidos de tanques. Oh, Faixa de Gaza! Oh, terra de ninguém! As balas assassinas, o genocídio implícito, silencioso, agora se volta contra um grupo de mulheres escondidas pelos véus que nos lembram as nossas freiras..
                           A morte de mulheres palestinas por militares judeus nos assusta. Aquele grupo de mulheres, de tão vestidas que mal lhes reconhecemos parte do rosto, servindo como escudos humanos para protegerem seu povo, não foram poupadas. Balas criminosas abateram duas dessas mulheres e feriram, no mínimo, dez. Mulheres heróicas que enfrentaram com a sua aura feminina as hostes inimigas. Em gestos, em palavras, procuraram defender sua causa, sua visão de vida, seu partido, sua ideologia, seus protegidos refugiados na mesquita Al Nasir.
Debalde lhe foram os gestos, as palavras, os gritos e as imprecações contra os adversários.
Assim como nos comovem até as lágrimas a morte covarde de uma criança, assim também nos oprime o coração assistirmos, impotentes, à trucidação de mulheres corajosas, decididas, companheiras de verdade, mães de verdade, esposas de verdade, amigas de verdade.
                     Lembrei-me, pela cena vista n a TV, das mães da Plaza de Mayo. Essas mulheres, heroínas da modernidade, que souberam, com dignidade, defender seus entes queridos desaparecidos pelos inimigos da democracia. Vêm-me também, agora, à lembrança, ainda que em outro contexto existencial, aquelas mulheres – as varinas - fortes e decididas, prontas à luta cotidiana e ao batente pesado, que aparecem no belo poema de Cesário Verde, “O sentimento dum ocidental.”
                  As mulheres palestinas de véus apenas quiseram proteger seus familiares ou patrícios. Conquanto fossem julgadas culpadas – e não o foram nem jamais seriam -, ainda assim teriam os nossos aplausos e a nossa simpatia pela coragem provada e pelas manifestações eloqüentes de amor a uma causa, a um ideal, a uma verdade.
Essas mulheres maravilhosas – elas o são ainda que pela tragicidade do acontecimento – de Beit Hanun são a confirmação inequívoca de que o chamado sexo fraco não tem nada de fraco. Tem de forte e de belo, de firmeza e de humanidade, de sentido de solidariedade e de amor aos seus.
                  Em número aproximado de 50, essas mulheres palestinas apenas desejaram atingir um objetivo: permitir que ativistas patrícios pudessem escapar do cerco militar judeu. Mas, não era preciso que o exército israelense chegasse a tal extremo. Os tanques viram claramente visto meia centena de mulheres de ânimo forte tentar defender o lado delas. Nem vem a calhar o fato de o exército israelense alegar que, no meio do grupo de mulheres, houvesse militantes palestinos armados, sobretudo porque essas mulheres impávidas estavam inermes. Elas, portanto, só tinham para se defender a sua presença altiva, a sua beleza oculta e misteriosa nos véus, as suas palavras de indignação e os seus gritos contra os horrores das guerra. O mesmo se poderia afirmar se, em vez dessas mulheres palestinas, ali estivessem defendendo suas famílias corajosas mulheres judias. Oh, mulheres de Beit Hanun, vocês já conquistaram o meu coração e a minha estima!