Martin Gardner
Por Bráulio Tavares Em: 20/07/2010, às 11H50
Bráulio Tavares
Morreu no mês passado, aos 95 anos, um dos sujeitos mais inteligentes do mundo,  o escritor e matemático Martin Gardner, autor de uma enorme quantidade de livros  sobre filosofia e ciência, além de curiosidades e quebra-cabeças matemáticos, o  que faz dele, neste sentido, uma espécie de Malba Tahan dos EUA. Além disso,  assinou por 25 anos a coluna “Mathematical Games” da revista Scientific  American. 
Seu nome é conhecido dos leitores brasileiros pela  recente reedição dos livros de “Alice” de Lewis Carroll, para os quais ele  preparou uma edição cuidadosamente anotada; e pelo clássico Magias e  Crendices em Nome da Ciência, um dos ataques mais arrasadores às  pseudo-ciências, desde a Ufologia à crença na Terra Oca, desde a Dianética às  teorias da Atlântida e da Lemúria. Também “passa o rodo” em teorias que pra mim  têm um certo fundamento, como a psicologia de Wilhelm Reich e a Linguística  Geral de Korzybsky, o que torna seu livro ainda mais interessante. Afinal,  destruir crenças sem pé nem cabeça é como bater num bêbado. Danado é a gente  acreditar numa ideia (mesmo que parcialmente) e ver um intelecto de primeira  grandeza questionar aquela ideia. Seja qual for o resultado, a gente sai dessa  batalha mais rico do que entrou.
Gardner escreveu sobre matemática,  ciência, filosofia. Era adepto de limericks, poemas absurdos, anagramas e  palíndromos. Gostava de mágicas de salão e de koans budistas. Era um sujeito de  cabeça aberta, como todo cientista que se preza, sempre disposto a considerar  uma premissa maluca pela simples curiosidade de ver até onde ela conduzia. Era,  principalmente, um cético com empatia humana e com senso de humor. Seu ataque às  “Manias e Crendices” lhe atraiu a fúria de todos aqueles criticados, embora  (como ele mesmo observou com ironia) a maioria dos que o atacavam erguiam suas  objeções apenas contra o capítulo dedicado a suas próprias crenças, e  consideravam que todos os demais eram excelentes. 
Um livro que venho  lendo aos poucos é sua coletânea de ensaios The Whys of a Philosophical  Scrinever (Oxford Press, 1985). Ele explica os diversos lados do seu  ceticismo, em capítulos com títulos saborosos como “Ciência: Por que não sou um  Paranormalista”, “Estado: Por que não sou um Anarquista”, “Liberdade: Por que  não sou um Marxista”, “Fé: Por que não sou um Ateu”, “Provas: Por que não creio  que a existência de Deus pode ser demonstrada”, “O Mal: Por que não sabemos o  porquê”, “Imortalidade: Por que não a considero impossível”. 
Gardner  tinha a humildade de afirmar que ninguém pode ser convencido, por meio da  lógica, de algo importante. São as nossas experiências humanas, envolvendo nossa  racionalidade, nossas emoções, nossas relações com os outros e com o mundo, que  mobilizam nossa mente e mudam nossa vida. O ser humano é uma Gestalt, um  conjunto interligado. A Ciência é apenas um dos instrumentos de que ele se  serve, mas sem tal instrumento (ele parece dizer) de nada adiantam os outros.

                                                        