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Nunca irei a uma manifestação contra a guerra, se fizerem uma pela paz chamem-me.
Madre Teresa
Desde 2003 elas acontecem e eu não sabia. E quando soube, não acreditei! Não que eu tenha algum preconceito, nada disso. Afinal, quem gosta de vampiros não pode se dar ao luxo de criticar o gosto dos outros. No entanto, com os meus botões, fiquei me perguntando qual seria o objetivo por trás de uma marcha desse tipo.
Tudo começou no Canadá, em Toronto. Não consegui descobrir os motivos. Será que havia alguma causa social envolvida ou foi resultado de um dia de tédio, quando na TV a cabo não passava nada de interessante? Não sei. O fato é que a partir de 2003 – ano dessa primeira caminhada em Toronto – essas marchas se disseminaram pelo mundo e até aqui no Brasil elas passaram a acontecer de maneira bastante regular.
Agora imaginem o cenário: milhares de pessoas saindo às ruas fingindo-se de mortos-vivos. Todas fantasiadas de defuntos, se arrastando pelas avenidas das grandes capitais, como uma espécie de escola de samba, sem, é claro, a bateria, pois zumbi que se preza não canta e nem dança, apenas se arrasta. Incrível! Contudo, como sou do tempo que é preciso motivo para se envolver com qualquer coisa, por mais esdrúxula que ela pareça, fui atrás de mais informações.
Descobri, por exemplo, que nos Estados Unidos, esse movimento aumentou por causa do ex-presidente americano, Mr. George W. Bush. Segundo as fontes pesquisadas, foi uma forma das pessoas protestarem contra o seu governo, principalmente, quando perceberam que ele estava arrastando o país para uma nova guerra. Os organizadores alegaram que, como ninguém estava sendo ouvido, o melhor seria sair às ruas fantasiados de zumbis.
Confesso ter ficado meio confusa – é o que dá ter nascido nos anos 60 –: se o povo não estava sendo ouvido, o melhor não seria fazer muito barulho? Tipo, “Se eles não nos ouvem, vamos berrar, de preferência em um megafone, ou bater em panelas até deixar todo mundo louco!”. Pois é, parece que o espírito desses movimentos é completamente diferente. Gandhi ficaria orgulhoso!
E como não poderia ser diferente, as marchas chamaram tanta atenção que acabaram virando tema de pesquisa. Aliás, o que, atualmente, não vira assunto de estudo acadêmico? Muito pouca coisa.
Sarah Lauro, uma pesquisadora americana e professora da Universidade Clemson, na Carolina do Sul, resolveu ir atrás das motivações desse movimento. Para atingir seus objetivos ela se debruçou sobre séries de TV, como “The Walking Dead”, filmes, jogos de videogame além, é claro, das caminhadas propriamente ditas.
O estudo ainda não foi concluído, mas a pesquisadora afirma que não se trata de uma febre casual, mas parte de uma tendência histórica que reflete o nível de insatisfação da população, em especial dos mais jovens, com as questões culturais e econômicas. Ela ainda destaca que esse descontentamento nem sempre é uma expressão consciente de um sentimento de frustração. Ou seja, há uma sensação generalizada de desconforto, mas as pessoas não sabem dizer o que o gera. Fingir ser zumbi ou assistir “The Walking Dead” passa a ser uma válvula de escape que ajuda a lidar com essas emoções confusas e contraditórias.
Para Nietzsche, a objeção, o desvio, a desconfiança alegre e a vontade de fazer piada são sinais de saúde. Segundo ele, o absoluto é que pertence à patologia. Se considerarmos essa ideia verdadeira seremos obrigados a aceitar que essas marchas, organizadas na maioria das vezes por meio das redes sociais, são marcas de saúde mental e social. É a forma encontrada, por essa nova geração de protestar contra aquilo que, mesmo de forma indefinida, os angustia e preocupa. No início dos anos 60 foi a onda hippie, com o seu lema “Faça amor, não faça a guerra”, hoje são os zumbis e amanhã, ninguém sabe.
De qualquer maneira, o fato é que até 2012 caminhadas de zumbis já foram documentadas em vinte países, com o maior encontro reunindo quatro mil participantes no New Jersey Zombie Walk, no Parque Asbury, em Nova Jersey, em outubro de 2010, evento registrado no Guinness, o livro de recordes. Para pessoas como eu, nascidas em outro século, continua sendo estranhíssimo esse tipo de movimento. Porém, reconheço que é melhor uma passeata zumbi, na qual os jovens se mobilizam para manifestar suas insatisfações, a uma inércia paralisante que não ajuda a resolver nenhuma das dificuldades enfrentadas pela sociedade moderna.
Mil vezes os grunhidos dos zumbis ao silêncio dos que se conformam em ser apenas uma massa de manobra sempre em conformidade com aqueles que detêm o poder. Com isso não estou dizendo que vou me fantasiar de morta-viva e sair desfilando por ruas e avenidas. Na verdade, estou apenas expressando meu apoio a qualquer tipo de movimento que mexa com a cabeça dos jovens e os faça ver além dos seus computadores e de suas salas de bate-papo virtuais. A verdadeira mudança está nas ruas, não importa se você vai gritar ou simplesmente grunhir. O importante é estar bem ancorado no presente. Portanto, zumbis do mundo uni-vos!