Quando formos politicamente educados, a ponto de levarmos a sério o voto e as consequências inerentes às responsabilidades que, com ele, atribuirmos aos escolhidos para nos governarem e representarem nos parlamentos; voto que, quiçá - tanto quanto virmos essa pretensão, quase utópica, de sermos bons animais políticos, convertida em realidade -, um dia, passe a ser faculdade e não mais coerção; nessa época, possivelmente, blefes que não poderiam resultar em fatos, como esses que, diária e recorrentemente, são publicados na melhor imprensa, replicados por outras mídias, e, infelizmente, confirmados; por não passarem de meras lorotas, ações de pura demagogia política, deverão ceder espaço a assuntos verdadeiramente importantes. Jornal fulano: deputado federal sicrano já decidiu: não lançará o filho como candidato à Câmara. Vai distribuir os votos entre seus aliados, dando preferência a candidato a ser lançado por correligionário. Mesmo matutino e data: candidatos a deputado federal na coligação “qualquer uma” esperam dele a atitude que teve sicrano: retire a candidatura de sua companheira à Câmara Federal e dilua entre os parceiros os votos que iria buscar para ela. Idem, idem: o partido tal, que acena com a candidatura de vice-governador, já teria mandado dizer que “quer” os votos de sicrano para eleger um deputado federal, e o nome até já teria sido declinado: aqueloutro. Jornal fulano, dias depois: o decano do partido jovem, “seu moço”, diz a quem lhe dá ouvidos que não aceita sicrano “destinar” seus votos para um nome de outro partido, a deputado federal. Uma vez hajamos nos conscientizado, enquanto cidadão-eleitor, de que somos o elo mais importante no processo eleitoral, governantes que elegermos e parlamentares que conduzirmos às assembleias legislativas, ao senado, câmaras municipais e federal, que ousarem se portar conosco do mesmo irresponsável e desrespeitoso modo de proceder de outrora, provavelmente, somente poderão recontar os votos obtidos na eleição em que se elegeram; isso porque, quem se utilizou dos cargos conquistados apenas para usufruto particular, esquecendo-se de quem lhes delegou poderes e competências para defender os interesses da coletividade; a esses, o eleitor preparado, esclarecido, preocupado com o futuro de seu município, do estado e de seu país, dificilmente, dará novamente seu voto. O voto de cabresto, que hipócritas e demagogos de agora insistem em dizer que não mais existe, de fato, será coisa do passado, mercadoria extinta, a partir do momento em que passarmos a entender que não merecem apoio nem nossa consideração tipos como aqueles que, a cada nova eleição, vinham pedir-nos voto e, do dia seguinte ao resultado do pleito, até a data em que se iniciava a próxima campanha, simplesmente, esqueciam-nos, abandonavam-nos. Tão logo passemos a crer e acreditar que não somos massa de manobra nem peça descartável na engrenagem político-eleitoral, essa corriola que, por acaso, se ufane ou ainda pense que dispõe de nossas consciências e vontades, como se delas fosse posseiro, vai perceber que somente haverá uma forma de continuar contando com nosso apoio: trabalhando, produzindo, não para engordar os cofres caseiros, mas em prol da sociedade, do povo. Essa loa que, hoje, para alguns, parece regra, de que o voto que um dia demos a alguém fez-nos, não credor, mas devedor dele, precisará mudar. A única opção que o candidato deverá ter em relação ao voto que lhe cedemos, será valorizá-lo, cumprindo a bom termo a delegação de poder recebida. Os sacripantas que, no passado, nos fizeram pensar e sentir que havíamos jogado no lixo o voto a eles dado; todavia, apesar disso, ainda “acham” que continuam fiéis depositários dele, a ponto de o “exigirem”, não apenas para si, no caso de concorrerem a novo cargo eletivo, mas também para alguém de sua família ou de seu rol de amizade, ou mesmo um aventureiro que estejam lançando; esses terão, sim, o que merecem: nosso total e irrestrito desprezo político. Vai se certificar o governante ou parlamentar, a partir do momento em que, de fato, passarmos a exigir dele, sempre, prestação de contas dos atos referentes ao cargo exercido, que, para continuar merecendo o voto de cada um, livre, desimpedido e sem peias, amarras ou cabresto, sua história de trabalho precisará ser estupenda, honesta, irrepreensível. Essa transferência de votos a parentes ou apaniguados que, hoje, alguns políticos conseguem fazer, só é possível graças à nossa falta de seriedade, nossa irresponsabilidade política. Talvez, ainda não tenhamos aprendido a votar. Quem sabe não haja chegado a hora de deixarmos a condição de Maria vai com as outras e de agirmos como cidadãos inteligentes? Bravatas como essas que, atualmente, certos políticos veem converterem-se em fato, provavelmente, deixarão de existir, senão, quando ditas, soarão como falácias, lorotas de quem não acompanhou as mudanças históricas. Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected]