Acho que vai ficar bom. Só preciso agora incendiar a bicicleta e descobrir um jeito de isso tudo provocar um terremoto. EU ODEIO A FÍSICA!
Acho que vai ficar bom. Só preciso agora incendiar a bicicleta e descobrir um jeito de isso tudo provocar um terremoto. EU ODEIO A FÍSICA!

 O bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no espaço de tempo de semanas.

Edward Lorenz

(Meteorologista, autor do chamado Efeito Borboleta que fundamentaria a Teoria do Caos).

Eu odeio Física. O-D-E-I-O. Pronto, falei. Não adianta disfarçar. É loucura demais. Por mim, colocava fogo em tudo e esquecia que algum dia tive contato com essa porcaria. Com esse já é o meu segundo zero. Nada do que o professor pergunta eu entendo. Nada! E aí ele vem com a história da Física estudar os fenômenos da natureza. Que natureza, pelo amor de Deus?! Não tem natureza nenhuma. Só tem um amontoado de fórmulas que a gente é obrigada a decorar. Quando eu vou usar qualquer uma delas? Nunca! Para que, então? E quando o professor começa a viajar querendo nos convencer da “beleza” de certas teorias mirabolantes inventadas por uns caras muito doidos? Aposto que, se fosse comigo, me internavam num hospício. Olha só esse cara, o tal do Einstein. Superfamoso, com aqueles cabelos desgrenhados e a língua de fora. Se ele tivesse a mãe que eu tenho, ele ia ver com quantos pentes se penteia um cabelo. Mas, como não sou eu, todo mundo acha ele o máximo. Imagina, inventou que o tempo encolhe e a massa aumenta! Pode? Ele chamou isso de Teoria da Relatividade. O negócio é tão doido que nem o professor sabe explicar direito e, segundo ele, muito pouca gente consegue entender. E eu tenho de estudar essa porcaria. Agora a onda é a tal Física Quântica. O professor, quando fala dela, parece que vai ter um troço. Só falta ajoelhar e rezar. Outro amontoado de besteiras. Um lugar onde as coisas podem acontecer simultaneamente, tipo, a mesma bola podendo passar por duas goleiras diferentes ao mesmo tempo. Dá para acreditar num absurdo desses? Não dá! É coisa para louco. Mas o professor acha o máximo e nós é que nos ferramos. E quando ele contou a história do gato? Não dá nem para dizer como ficou a cara dele. A gente só sabia olhar meio de boca aberta, esperando que fosse uma piada. O pior é que não era uma piada! Um outro cara de nome complicado, como é mesmo o nome? Sho qualquer coisa, criou uma história de um gato que pode estar vivo e morto ao mesmo tempo. Se sou eu a inventar uma coisa dessas e coloco na prova de redação, tenho certeza, levo um redondo zero, sem direito a defesa ou argumentação. Onde está a natureza? Um gato zumbi? Onde já se viu coisa igual? Só na Física. Por isso eu ODEIO A FÍSICA. Na última aula, ele resolveu mudar de bicho, passou de gato para borboleta. Veio com um papo, ainda mais entranho, de borboletas provocando inundações ou coisa pior. Já pensou? Em casa o que não faltam são borboletas, algumas até bem bonitinhas. Não consigo imaginar nenhuma delas provocando inundações. Mas como na Física tudo é possível, nós nos preparamos para uma nova viagem. E não deu outra...

No quintal da sua casa, Lúcia jogava bola na maior inocência. De repente, uma borboleta cruzou na sua frente. Com um susto, ela deixou cair a bola, que saiu rolando em direção ao meio da rua. Lúcia correu atrás para tentar recuperá-la. Enquanto isso, um caminhão carregado de sal estava passando por ali. Para não atropelar a menina, o motorista virou o volante subitamente e o caminhão acabou tombando. Na queda, o veículo pegou fogo e todo o sal que havia no seu interior começou a queimar. A fumaça do incêndio, carregada de minúsculas partículas de cloreto de sódio, subiu para as nuvens. Lá no alto, na atmosfera, o cloreto de sódio atraiu pequenas gotinhas de vapor d’água, que cresceram até terem peso suficiente para cair. Com as nuvens pesadas, começou a chover depois de algum tempo. Essa chuva tornou-se uma enxurrada, alagando ruas e destelhando casas. Assim, viu-se como a brincadeira inocente de uma menina, no fim, produziu uma alteração imprevisível nas condições climáticas, ou seja, uma inundação.

Quando ele terminou a história, havia menina chorando, com pena do motorista e da tal da Lúcia porque, para elas, os coitados tinham virado churrasquinho. O professor ficou de boca aberta sem saber o que falar. Quando recuperou a voz disse, com a maior cara de pau, que o importante não era a menina ou o motorista, mas toda a “cadeia de acontecimentos”. Cadeia merecia ele, por contar uma história dessas, assim, no meio da aula. Sabe como ele chamou essa história idiota? Teoria do Caos. Mais uma teoria maluca, sem pé nem cabeça. Vou repetir para deixar bem claro: EU ODEIO A FÍSICA! Agora, só para nos infernizar, ele quer que a gente elabore um texto sobre a tal teoria. Estou pensando em dar parte de doente, tipo caxumba, catapora, febre amarela, qualquer coisa bem contagiosa. O difícil vai ser convencer a minha mãe. O que eu vou fazer? Não tem jeito, preciso inventar alguma coisa e quanto mais maluca melhor. Ele não vai poder reclamar. Vamos ver...

No quintal da sua casa Júnior jogava pingue-pongue tranquilamente. De repente, um gato zumbi atravessou na sua frente. Com o susto a bolinha saiu quicando até o meio da rua. Júnior correu atrás dela para tentar recuperá-la. Enquanto isso, o velho doido da rua, de cabelos em pé, passou pedalando na sua bicicleta. Para não atropelar o menino ele girou o guidom e caiu...

Acho que vai ficar bom. Só preciso agora incendiar a bicicleta e descobrir um jeito de isso tudo provocar um terremoto. EU ODEIO A FÍSICA!