Fernando Pessoa: “Sonnet XXXV”

 

Sonnet XXXV


GOOD, I have done. My heart weighs. I am sad.
The outer day, void statue of lit blue,
Is altogether outward, other, glad
At mere being not-I (so my aches construe)
I, that have failed in everything, bewail
Nothing this hour but that I have bewailed,
For in the general fate what is’t to fail?
Why, fate being past for Fate, ‘tis but to have failed.
Whatever hap or stop, what matters it,,
Sith to the mattering our will bringth nought?
With the higher trifling let us world our wit,
Conscious that, if we do’t, that was the lot
          The regular stars bund us to, when they stood
          Godfathers to our birth and to our blood.

Soneto XXXV

EIS o resultado. Coração pesado. Triste estou.
O dia exterior, do azul iluminado estátua vazia,
Por inteiro aberto, outro, radiante está
Por não ser-Eu (formas de minhas dores).
Eu, que em tudo fracassei, não lamento
Nada nesta hora senão por lamentado haver
Pois, o que vem a ser fracasso no final do destino?
Ora, sendo o destino passado para o Destino, fracasso é.
Pouco importa o que quer que suceda ou se interrompa,
Porquanto não se reduzirá a nada todos os nossos cuidados?
Do novo mundo o melhor seriam as frivolidades mais elevadas,
Conscientes de que, se assim agirmos, a parte que nos coube essa foi.
A tal nos destinaram os astros quando se nos tornaram
Do nascimento e do sangue padrinhos.
 

                                                  (Tradução de Cunha e Silva Filho)