Estudiosos observaram em pessoas separadas para estudo do Alzheimer, que em considerável percentual delas, depois diagnosticadas com a doença, dez proteínas estavam presentes no sangue dos participantes da amostra. Isto quereria dizer, basicamente, que a enfermidade é incurável, mas quem quiser saber se, no futuro, dela será vítima, logo, logo bastará fazer um específico exame de sangue. Valeria a pena, de fato, hoje, alguém se descobrir potencial portador do mal de Alzheimer se, infelizmente, para o mesmo não existe cura, apenas simplórios tratamentos paliativos?

            Renomado médico italiano, Marco Bobbio, filho do ilustre filósofo latino, Norberto Bobbio, em entrevista dada a uma revista semanal brasileira, admitiu que não vê muita vantagem em um indivíduo viver quase secularmente com qualidade de  vida incompatível com a quantidade; ou seja, quando, já cansado de viver, sem condições de bem aproveitá-la, é instado a continuar sobrevivendo graças a medicamentos ou tecnologias de custo elevado, aplicados ou acionadas por parentes, amigos ou terceiros; o que culmina por fazê-lo sofrer mais ainda, em razão do trabalho e da preocupação que imputa naqueles, cujo carinho e dedicação, invariavelmente, são insuficientes para garantir-lhe sobrevida digna.

            Acredita o cientista, no que é seguido por diversos outros estudiosos e cidadãos comuns, religiosidade à parte, que parece muito mais proveitoso, não que o portador de doença gravíssima e incurável viva anos sem conta - ou vegete na maioria deles -, mas o bastante para, com discernimento e vontade próprios, buscar ser o mais feliz que puder.

            Há, e isso é inquestionável, determinadas situações que se nos apresentam e cujas consequências, por mais que sejam previsíveis, são inevitáveis; contra as mesmas não convém lutar, a não ser que se queira, voluntariamente, malograr ou perder um tempo que bem poderia ser aproveitado com algo plausível, factível. Um homem inteligente, por exemplo, não vai meter-se a querer tapar o sol com uma peneira; ou a enfrentar, de peito aberto, a fúria da natureza, materializada em um terremoto ou tufão devastador. Sendo muito tolo, pode até achar (acreditar, não) que vale a pena tentar, embora sabendo que jamais conseguirá transformar veleidade utópica e quimérica em fato mensurável, realista, não fictício, alcançável. Boa vontade, como águas passadas, não move moinho; e querer, nem sempre, é poder.

            Recorrentemente, tem se ouvido, lido, visto ou sabido que no Paquistão, em Jerusalém, na Síria, Irã, em Israel e tantas outras localidades, notadamente, onde a religião que professam tem mais poder sobre a vida e a morte do que todas as leis humanas; locais esses, cujo deus que veneram, na visão embotada de fundamentalistas, autoriza ou não pune os assassinatos por apedrejamento, decapitação e outros tipos de extermínio de “infiéis”, mulheres, crianças, velhos, patrocinados por aqueles que se intitulam guardiões da fé e do que consideram virtudes humanas aceitáveis. O que fazer para ajudar as vítimas, os sacrificados desses lugares, se não há como induzir seus líderes, pacificamente, sem intervenção em sua soberania, a aceitarem ou discutirem costumes, tradições ou sobre práticas religiosas heterodoxas aos olhos do resto do mundo?

            Ou seja: o que dá para fazer quando não se pode fazer nada? Por mais que humanistas nos alertem que, ainda que nossas palavras se percam aos ventos, precisamos nos manifestar, indignarmo-nos contra atitudes ou procedimentos que, na verdade, indiscutivelmente, são atos criminosos; não raro, nossas ações ou intenções são desvanecidas pela recorrência dos fatos a que somos obrigados assistir ou tomar conhecimento. Parece estranho, mas muitos dos que sofrem maus tratos, retaliações, humilhações, perpetrados por esses sanguinários, infelizmente, também engrossam a lista dos que preferem que tudo continue como está; portanto, dispensando qualquer tipo de ajuda humanitária.

            Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal ([email protected])