Cláucio Ciarlini à esquerda.
Cláucio Ciarlini à esquerda.

[Claucio Ciarlini]

 

“Boa noite a todos…

 

Cumprimento a todos os confrades e autoridades presentes nesta mesa de honra, assim como o público presente!

 

Gostaria de iniciar minha breve e humilde fala, através de duas perguntas:

 

Parnaíba é a “terra do já teve”?

Ou se trata de uma cidade, como muitas neste país (e até no mundo), onde alguns aspectos e locais não mais existem, porém existem outros, igualmente importantes?

Acredito que os amigos, confrades e esta plateia, deveras informada e acolhedora, irá concordar, que a segunda questão é a correta. 

 

Parnaíba deixou de ter inúmeros espaços, tradições e grupos, porém, hoje possui novas opções, como por exemplo, os inúmeros cursos de ensino superior, fazendo com que os “filhos da cidade” não sejam obrigados a mudar para a capital ou até mesmo para outros estados na busca de prosseguir em suas formações. No que lhes deixo mais uma provocação:

 

Parnaíba, por ter mudado em vários aspectos, ainda deveria ser chamada de Parnaíba?

Deixo esta pergunta para que vocês possam ir refletindo, enquanto começo a falar do meu objetivo principal.

 

No ano de 2021, participei de uma palestra online, onde o tema era a História do Almanaque da Parnaíba, proferida por um professor de história, que me reservo aqui, por motivos éticos, a não mencionar o nome, além do fato de se tratar de um excelente educador e um grande ser humano. Porém, no decorrer de sua fala, que se iniciou com a origem do Almanaque, pelas mãos de Benedicto dos Santos Lima, passando pela organização de Ranulpho Torres Raposo e alcançando os anos 80, com Manoel Domingos Neto… Notei, para a minha surpresa, que o referido professor não mencionou os almanaques lançados nos idos de 1994 a 2020, editados pela Academia Parnaibana de Letras. Livros muito bem capitaneados por nomes como Lauro Correia (de 1994 a 1999); Iweltiman Mendes (edição de 2004); Pádua Santos (de 2006 a 2017); e José Luiz de Carvalho (de 2018 até aquele instante). Obras estas, que tiveram, dentre seus organizadores ou como parte do conselho editorial, nomes como os de: Alcenor Candeira Filho, Danilo Melo Souza, Israel Nunes Correia, Fernando Basto Ferraz, Pádua Santos, Maria Dilma Ponte de Brito, Maria do Amparo Coelho, Antonio Gallas Pimentel, Wilton Porto, Diego Mendes Sousa, além deste ser que vos profere estas palavras.

 

Daí, quando do encerramento da fala do professor e abertura para comentários e perguntas, aproveitei para falar, de forma muito rápida e resumida, deste período que ficou de fora. Até porque, achei que o professor não havia falado por conta do tempo avançado ou até mesmo esquecimento diante de tanta história, em detalhes e aprofundada, pois assim foi a sua fala, rica em detalhes, no que condiz ao período de 1923 a1985. E para a minha surpresa, até mesmo perplexidade, o professor respondeu que, propositalmente, havia deixado de fora os 11 almanaques lançados nas últimas décadas, por considerar que houve certa descaracterização, se comparado aos almanaques que os antecederam, ou seja, os que vieram antes dos cuidados da APAL.

 

Diante disso, e de fôlego recuperado, utilizei-me de uma fala do próprio professor durante a palestra, quando ele mencionou a expressão de “terra do já teve”, termo esse que ele criticou, afirmando que Parnaíba perdeu em alguns aspectos, mas ganhou em outros.

 

Fiz então a pergunta a ele, a mesma que fiz a todos há alguns minutos, se Parnaíba deveria mudar de nome… Ao mesmo tempo que logo respondi: Claro que não! E continuei, afirmando que o mesmo podemos dizer do Almanaque da Parnaíba, que é sim, continua a ser, embora com algumas mudanças e adaptações, o Almanaque da Parnaíba!

 

Tudo na vida evolui. O ser humano também. Tenho a convicção de que não sou mais a mesma pessoa que iniciou no mundo da escrita há 30 anos. Embora eu tenha mantido uma base de caráter e de valores, em diversos pontos eu mudei, evoluí. O meu nome, então deve ser, por isso, alterado? Eu devo ser desconsiderado ou desrespeitado?

 

Podem até não gostar da pessoa que me tornei… Assim como não aceitarem a Parnaíba atual, todas as mudanças que houve, pode-se até não aprovar ou não curtir o que o Almanaque se tornou… Mas não é por isso que se deixa de ser o que é! Não é por isso que deixo de ser o Claucio; não é por essa razão que teremos que mudar o nome de Parnaíba e nem tão pouco dizer que o Almanaque só será considerado até a década de 80.

 

Em conversa com o amigo e confrade Elmar Carvalho sobre esta questão e ocorrido, Elmar comentou:

 

“Como visto, a partir de 1994, edição nº 61, o Almanaque da Parnaíba, na qualidade de sua revista, passou a ser editado pela Academia Parnaibana de Letras. O número anterior data de 1985, quando o periódico completara 62 anos de sua existência. Com exceção das charadas, dos quadros estatísticos e das propagandas comerciais, praticamente sua nova linha editorial manteve, em sua essência, o projeto anterior, senão vejamos: continuou a publicar textos literários, tais como poemas, contos, crônicas, ensaios e artigos, além de textos de caráter historiográfico ou sobre cultura e arte.

Muitos desses trabalhos são de alta qualidade e diria imprescindíveis para quem queira analisar a produção literária parnaibana de 1994 a esta parte. Vários dos colaboradores dessa época, escreveram em números anteriores do Almanaque. Cabe ainda salientar que nos primeiros números editados pela APAL ainda foram publicados dados estatísticos. Contudo, sendo essa publicação voltada preferencialmente para a produção dos seus membros, esse viés, por não ter interesse literário, não foi mantido por muito tempo. Com relação às charadas, nos dias apressados e cibernéticos de hoje, já praticamente não há quem as faça, e, tampouco, quem as leia; não vai nisso nenhuma crítica, mas uma simples constatação.

Entre os colaboradores desse notável periódico piauiense, ao longo dessas três décadas, além dos acadêmicos, podemos citar: Paulo Nunes, Renato Castelo Branco, Benjamim Santos, José Camilo da Silveira Filho, Orfila Lima dos Santos, Vítor Athayde Couto, João Evangelista Mendes da Rocha, João Maria Madeira Basto, Marc Jacob, Jorge Carvalho, Norma Couto, Sólima Genuína dos Santos, Flamarion Mesquita, Cláudio de Albuquerque Bastos, James Kelso Clark Nunes, Antero Cardoso Filho, Magalhães da Costa etc.

A edição nº 67, de 2004, foi comemorativa dos 80 anos do Almanaque; trazia em sua capa as imagens das capas de números antigos e estampou em suas páginas as propagandas históricas e interessantes de velhas edições. Durante várias edições, graças ao esforço de Alcenor Candeira Filho, a nossa revista publicou uma coluna das “parnárias”, com textos de poetas falecidos e vivos.  E a capa desta edição de 2023 (nº 75), por sinal muito esmerada (com “efeitos visuais” modernos), utiliza em sua montagem a capa da edição inaugural do Almanaque da Parnaíba. Comemora o Centenário do Almanaque, em plena circulação, e os 40 anos da Academia Parnaibana de Letras, sua editora há 3 décadas.”

 

Enfim, Academia Parnaibana de Letras, que é um forte exemplo de coisas importantes que, hoje, Parnaíba tem, vem desempenhando um excelente trabalho, no que condiz à manutenção do Almanaque. Digo porque, desde o primeiro número que a APAL assumiu, ou seja, o 61º, de 1994, quando eu ainda era um estudante da sétima série do ensino fundamental, mas já apreciador da literatura, até chegar nas cinco últimas edições lançadas, onde acompanhei de perto a produção, sendo um dos organizadores das quatro mais recentes. Posso atestar o zelo para com que estas páginas são construídas. O esmero que todos os presidentes tiveram, a citar o mais recente, José Luiz de Carvalho, um batalhador da literatura e da cultura em Parnaíba; assim como os meus confrades e parceiros de organização nestes últimos: Antônio Gallas Pimentel, Diego Mendes Sousa, Maria Dilma Ponte de Brito e Wilton Porto. Assim como não poderia deixar de destacar a pessoa que é responsável por este periódico continuar vivo, o nosso Mecenas, o amigo e confrade Valdeci Cavalcante. Além de todos os acadêmicos e escritores convidados ou que participaram dos concursos literários realizados, com seus inspirados textos, ao longo desses 30 anos! Sim, três décadas! Muito provavelmente, se não fosse a APAL, o Almanaque até estaria completando 100 anos, mas apenas de aniversário de sua primeira edição, em se tratando de publicações frequentes, só teria pouco mais de 60 anos…

 

Então pergunto:

 

Como alguém pode ignorar todo esse rico trabalho desenvolvido ao longo de três décadas?

É o último questionamento que vos deixo, ao mesmo tempo que afirmo, que certamente o tempo, este grande sábio, cuidará de fazer justiça e eternizar essas memórias!

 

Muito Obrigado!” 

 

Claucio Ciarlini é poeta, historiador e editor.