A Casa de Perdição

 

Antonio Rocha

 

Cada um tem a sua casa de perdição predileta. Digamos que são vários tipos para casas de perdições. Confesso que, aos 64 anos, uma das minhas alegrias é visitar e passear nessas casas. E as mais modernas tem cafeterias, degustações de guloseimas etc.

 

Minhas casas de perdição são as livrarias, ali, antigamente eu achava que perdia meu dinheiro, depois, cheguei à conclusão que é ao contrário. Ali eu perco as minhas ignorâncias, as minhas burrices.

 

Foi um amigo, pequeno livreiro na Zona Sul do Rio de Janeiro, quem me mostrou esse lado positivo. Eu não estava gastando dinheiro, mas sim, investindo no meu conhecimento.

 

A descoberta foi interessante. Uma tarde cheguei no citado estabelecimento comercial e brinquei:

 

- Estou adentrando em uma casa de perdição.

 

Surpreso ele perguntou:

 

- Como você fala uma coisa dessas de uma casa espírita?

 

- Desculpe, nada contra as casas espíritas, mas é assim que vejo as livrarias. Elas tem tantas coisas boas que o meu consumismo literário compra livro que só vou ter tempo de ler, daqui a vinte anos, pois tem uma fila de prioridades nas leituras.

 

- Então mude, livraria é casa do saber, vai abrir a sua mente, os seus olhos, o seu coração. Você está se dando um ótimo presente, e se o livro é para outra pessoa, a referida criatura vai ficar muito feliz com o livro, com o presente, com o brinde.

 

- Tem razão, é que eu me lembrei daquele romance clássico da Literatura Portuguesa, “Amor de Perdição”, do Camilo Castelo Branco (1825-1890) e adaptei para a minha realidade, amante dos livros. Às vezes fico perdido em meio a tantos livros ótimos e não tendo dinheiro para comprar todos e nem tendo espaço em casa para guarda-los. Sendo que, vez por outra, pego muitos livros e faço doações por aí.

 

- Você que é budista, então deve exclamar: “livraria – casa de Iluminação”. Iluminar as idéias, os pensamentos, o cérebro, a mente, os neurônios.

 

- Não resta dúvida que você é um bom vendedor, acabou de me convencer e a partir de hoje vou mudar minhas referências sobre as livrarias.

 

- Por falar em Literatura Portuguesa eu tenho aqui para lhe vender dois ótimos romances mediúnicos:

 

- Não falei !

 

Sorrindo ele continuou:

 

- É a minha arte, você escreve, eu vendo livros espíritas.

 

- Mas diga lá o que você ia me oferecer hoje.

 

- Ia não, você é professor de português e conjugou o verbo no passado, estamos no presente, portanto, eu vou vender. Mesmo que um cliente não compre eu faço como se ele já estivesse comprando, agora.

 

- Gostei do pensamento positivo !

 

- Pois é, o primeiro chama-se “Mensagens de Ignez de Castro”, de Chico Xavier e Caio Ramacciotti, 318 páginas e muitas fotos. Ignez (1320-1355) foi uma aia que teve um tórrido romance com o rei Pedro I de Portugal.

 

- E o outro volume ? – perguntei.

 

- Chama-se “Ignez e Pedro”, da mesma dupla de autores, tem 320 páginas, editora GEEM.

 

Resumo da ópera: saí da loja com os dois volumes, para as minhas pesquisas sobre “Literatura Espírita”.