[Whashington Ramos]

     Eram 11:40 da manhã. Um ciclista ia pedalando na avenida Miguel Rosa, perto do viaduto do Mafuá, quando um Corolla invadiu a ciclofaixa. Dele, desceu um cara e falou:

     - Não me leve a mal, mas quero te fazer uma pergunta.

     - Faça!

     - Como é que Você consegue pedalar debaixo desse sol de quase 40 graus, usando calça e camisa de manga comprida? Vai, me explica como é pode um negócio desse.

     - Consigo porque gosto de suar, jogando as toxinas fora, porque é um prazer chegar em casa daqui a alguns minutos e tomar um banho frio. Além disso, quando estou pedalando, estou respirando um ar menos viciado do que esse que Você respira dentro desse carro todo fechado.

     - O ar-condicionado desse carro tem filtro.

     - É... Mas esse filtro não transforma em oxigênio o gás carbônico que Você expira nem outros gases que são liberados às vezes. É um ar viciado, sim.

     - Mas e a segurança? Bicicleta é um meio de transporte muito frágil, a estabilidade é mínima. Não é perigoso andar de bicicleta?

     - Se eu fosse pensar em segurança e estabilidade, não sairia de casa nem a pé. Carrões como esse teu aí têm vários itens de segurança como freio a disco, air bag, trava nas portas, câmera para a ré, mas nada disso impede que às vezes o motorista morra preso nas ferragens ou num incêndio no próprio veículo.

     - Chega, rapaz! Não precisa falar tanta coisa ruim!

     - Foi Você que começou e entenda uma coisa de uma vez por todas: não existe transporte perigoso, perigoso é o ser humano e sua impaciência e arrogância no trânsito.

     - É verdade, mas prefiro carro. Até mais.

     - Eu prefiro bicicleta. Até.