DESUMANIZAÇÃO

     Há momentos em que vejo e sinto muita desumanização no excesso de carros e motos em Teresina, a qual não é uma cidade tão grande. Na verdade, é uma das menores capitais do Brasil, talvez a menor.

     Carros e motos passam tão veloz e desumanamente, que me deixam assustado e triste. Motoqueiros usam capacete feito de metal e acrílico, e o certo mesmo é usá-lo. Mas não se vê um semblante humano ali. É algo que serve para proteger a cabeça, mas serve também para assaltar e roubar. Muitos motoristas usam óculos escuros e têm a cara amarrada, parecem que veem as demais pessoas no trânsito como inimigas. Para que tanta velocidade? Aonde vão com tanta pressa? O barulho que produzem não os incomoda? Passam-me a impressão de que são poucos os que, atropelando alguém, têm a coragem e a decência de socorrer a vítima. Essa atitude é prova de que alguns ainda têm um pouco de humanidade em si. Ainda têm a capacidade de pôr a mão na consciência. Mas a maioria só pensa em si mesma. Irritam-se e xingam quando têm que parar ou diminuir a velocidade. Buzinam para o carro da frente sair, mal abre o sinal luminoso. Invadem preferenciais, ultrapassam pela direita mesmo se o carro da frente estiver na velocidade máxima permitida pela via. Não obedecem a semáforos. Parecem que estão indo tirar a própria mãe da forca. Passam sempre a impressão de que são dominados pela velocidade do veículo que dirigem. Dirigem? Na verdade, são dirigidos. Não é à toa que é tão alto o número de acidentes.

     Mas existe algo muito mais desumano: a arrogância de alguns motoristas que andam em carrões superluxuosos que, mesmo sendo os culpados num acidente, atribuem a culpa à vítima, humilham-na. Isso é o suprassumo da petulância e me lembra um desastre que aconteceu na casa de um irmão meu. Dois pirralhos vagabundos numa caminhonete perderam o controle e derrubaram a parede da frente da residência. Esse carro ficou na sala de estar, onde pessoas estavam vendo televisão, mas ninguém se feriu. Os dois moleques fugiram e foram chamar o avô deles, que já chegou abusando, quase querendo botar a culpa na casa e se recusando a pagar a reconstrução da parede. Foi preciso que nós falássemos duro com ele, inclusive que um primo meu, alto e parrudo, se aproximasse ameaçadoramente desse velho arrogante para ele baixar a foba e se comprometer a pagar o serviço.