Escreveu nosso poeta maior no seu parnaso:


DANTE NO PARAISO

Olavo Bilac
 

Enfim, transpondo o Inferno e o Purgatório, Dante
Chegara à extrema luz, pela mão de Beatriz:
Triste no sumo bem, triste no excelso instante,
O poeta compreendera o mal de ser feliz. 

Saudoso, ao ígneo horror do báratro distante,
Ao vórtice tartáreo o olhar volvendo, quis
Regressar à geena, onde a turba ululante
Nos torvelins raivando arde na chama ultriz: 

E fatigou-o a paz do esplendor soberano;
Dos réprobos lembrando a irrevogável sorte,
A estância abominou do perpétuo prazer; 

Porque no coração, cheio de amor humano,
Sentiu que toda a Vida, até depois da morte,
Só tem uma razão e um gozo só: sofrer!
 

Ora, depois do Inferno e do Purgatório, Dante vê a turbulenta e feérica luminosidade que cega dentro da qual
aparece "a paz do esplendor soberano" e ele, cheio de compaixão, pensa nos humanos que deixou para trás,
se entristece em vez de ser feliz, quer regressar à geena, ao fogo do inferno onde arde e sofre a população, o mundo dos homens, é um momento surpreendente dos dois poetas, pois Bilac abomina o prazer perpétuo de Deus, ele está cheio de piedade, de amor humano, e vê que vida e morte é só sofrer!