[José Ribamar Garcia[

 

             O primeiro romance na história da literatura brasileira foi  “A Moreninha” , publicado em 1844. De autoria  de  Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882”), fluminense da cidade de Itaboraí, onde, entre alguns logradouros, a biblioteca municipal leva o seu nome.

          O segundo,  “Memórias de um sargento de milícias”, dez anos depois, em 1854.  De Manuel Antônio de Almeida (1830-1861), nascido no Rio de Janeiro e falecido no naufrágio do navio Hermes, nas proximidades da cidade de Macaé, quando se destinava a Campos dos Goitacás.

             O  terceiro,  “O Guarani”, em 1857, de José de Alencar (1829-1887). Alencar nasceu em Messejana, Ceará, e faleceu no Rio de Janeiro.  

           Os três autores pertenciam à última fase do romantismo.  José de Alencar foi considerado  o “Patriarca da Literatura Brasileira”, não só pelo conjunto de sua extensa obra, como também por ter sido o primeiro a escrever sobre o sentimento de brasilidade, explorado o nosso nativismo e suas manifestações geográficas, sociais e culturais.  Enquanto  Joaquim Manuel de Macedo, por rigor histórico, deve ser o ”Pai do romance brasileiro".

 

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           A bibliografia da escritora e jornalista carioca Adalgisa Nery (1905-1980) registra mais de uma dezena de livros publicados. De poesias, crônicas, contos e romances, entre estes  “A Imaginária”, de muito sucesso na época.  Foi casada com Lourival Fontes, que chefiava o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Órgão implantado no governo ditatorial de Getúlio Vargas para fins de propaganda do regime e de repressão, sobretudo intelectual. Enquanto casada com ele, ela se impôs  a uma auto-censura que, possivelmente tenha   tolhido  sua capacidade  criatividade.      

            Era uma escritora intuitiva e imaginativa. Depois entrou na política, exerceu o mandato de deputada federal por três legislaturas.

            Em 1969, a ditadura militar cassou seu mandato, porque ela havia denunciado um esquema de corrupção na compra de tinta feito pela Marinha.                   

            Essa mulher que deixou o exemplo de coragem e de independência. Faleceu pobre e solitária num asilo  em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

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             Os escritores Monteiro Lobato (1882-1948) e Godofredo Rangel (1884-1951) foram colegas na Faculdade de Direito, em São Paulo. E se tornaram amigos até o último suspiro.        

             Findo o curso, Lobato continuou em Pão Paulo, onde nascera. Tornou-se promotor público, fazendeiro, comerciante, editor e escritor. E Rangel voltou para sua Minas Gerais, ingressando na magistratura.

             Durante 40 anos ininterruptos os dois mantiveram uma ativa correspondência literária. Fato único em toda história da literatura mundial.       

             As cartas escritas por Lobato foram reunidas em dois volumes, que fazem parte de suas Obras Completas, sob o título  “A Barca de Gleyre”. No entanto, as do Rangel não foram encontradas, apesar das cobranças feitas pelo amigo para publicá-las em conjunto.  

            Pelo que se vê nas cartas de Lobato o assunto primordial era literatura. São verdadeiras aulas de como se deve escrever. Pena que as de Rangel tenham sumido. Dizem que ele as extraviou, porque  sentia  que  as suas não tinham valor literário. E que alimentara a correspondência para impulsionar o amigo  a escrever. É possível que assim pensasse, pois modéstia e humilde moravam  em Rangel.