Confesso

Por Francisco Miguel de Moura
 
gastei boa dose de sorrisos verdes
espantei de meu corpo os feitiços
agora estou seco de mim
tenho uma alma nova
 
os amigos se foram ou me esquecem
encastelados em cismas e pesares
eu cuido dos outros, os que sobram
não tenho irmão nem par
 
os reis de lá dos seus palácios
querem só presentes (impostos)
querem louvores (pagos) dos jornais
 
eu não quero nada, servos nem senhores
que me critiquem, isto de que vale? nada
quero que o tempo passe devagar (ou não passe)
vivo mais porque espero (milagre)
 
quero dormir (mais quero acordar)
e comer e libertar-me de imprestáveis matérias
quero mais: quero amar, amar, amar /o
viver que é tão bom, enquanto é bom
e não dói (se não é sério).